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“Havia um frenesi sexual no discuro de Collor”, diz Thiago Lacerda

Quem – ainda – espera ver as aventuras sexuais de Calígula no palco, na montagem de Gabriel Vilella, encabeçada por Thiago Lacerda, irá se frustrar. Há sexualidade, mas não explicitada em corpos nus. A referência quando se pensa no mais sanguinário dos imperadores romanos é o filme produzido pela Penthouse em1979. Thiago, na coletiva de imprensa do Festival de Curitiba, assumiu o pré-conceito em relação a história de Calígula além das orgias sexuais. Assumiu também que o filme foi um referencial na juventude: "Via o filme às 3h da manhã, no auge da sexualidade, chegava na escola  e queria comentar sobre."

Calígula era casado com uma prostituta, mantinha relações sexuais com a irmã e na peça de Camus mantém uma relação homoerótica com um de seus generais, interpretado por Pedro Henrique Moutinho, numa composição contida. Lacerda beija na boca Moutinho numa rápida referência a essa relação.

Quando questionado pelo repórter sobre as relações sexuais trabalhadas na peça, Thiago diz que ela está presente em outros momentos. "A sexualidade é explicitada além da obviedade de um beijo, uma bunda, um peito. O espetáculo trabalha com a libido. O filme supre uma biografia para seguir um caminho erótico, enquanto Camus vai pelo intelectual. Calígula é um texto onde sua sexualidade é cênica. A palavra se coloca como instrumento de sedução. Os governantes têm esse poder na palavra. Se pensarmos no discurso que o Collor fazia, todo arrumado, penteado, bonito… as pessoas não o viam pelado, mas havia um frenesi sexual no discurso."

Engajado, articulado e simpático, o ator falou sobre a atualidade do texto de Camus e as possíveis releituras que a peça propicia ao momento atual. Diferente do filme que calcava toda a crítica social no baixo ventre do imperador, e que chocou a época pela naturalidade com que as cenas sexuais eram expostas, a peça dirigida por Vilella expõe um homem frágil e falível, capaz de cometer erros em nome da vontade própria e da pressão que tinha nas mãos de determinar o futuro alheio. "É um escrito sobre a natureza humana, de um homem que ocupa um trono. É um exercício de um intelectual sobre o poder, e sua força é avassaladora. Qualquer pessoa sentada no poder poderia ter dilemas parecidos com o de Calígula".

Densa, a encenação provoca o público a pensar. A narrativa, por vezes difícil e complexa, não facilita sua compreensão. Para Camus, o homem era incapaz de conhecer a felicidade. Esse homem no limite, perdido no meio do(s) caminho(s), entre seus dilemas é o que vemos retratado na peça: "Que tipo de concessão fazemos para viver?", questiona Lacerda reforçando um dos dilemas do autor.

*Colaboração para o site A Capa

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