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Hercules & Love Affair

Um novo hype está acontecendo na noite de Nova York e está sendo capitaneado por coletivos do Brooklyn que, fazendo música, trazem em sua formação artistas plásticos, produtores de moda e acessórios e, por incrível que pareça, pessoas ligadas à… música! Não é o hype do electro e da cena ligada a Williamsburg. Agora a boa é disco music! O esperto selo DFA lança com todo estardalhaço nos Estados Unidos e Europa, dia 10 de março, sua aposta mais que cacifada: Hercules & Love Affair.

A banda nasceu em 2003 comandada pelo DJ Andy Butler, figuraça conhecida das noites nova-iorquinas. Depois de alguns remixes de sucesso, chamou alguns amigos, entrou no estúdio e pronto: ao ouvirmos o CD somos catapultados para o final dos anos 70, em feéricos embalos de sábado à noite, ainda que menos cafonas.

Seus amigos não são fracos, a saber: o cantor Antony Hegarty, do Antony & The Johnsons; a DJ e designer de jóias Kim Ann e a cantora Nomi. São declaradamente e respectivamente gay, lésbica e mulher transexual. A orientação sexual da banda alcança os píncaros com a etiqueta pregada em sua testa pela específica imprensa especializada inglesa: “transvestite disco”.

Andy Butler declara que a escolha por este som ligado a disco (com traços de house e funk) foi feita para recuperar o apreço por festas e ambientes para dançar que ficaram estigmatizados, entre o povo gay, em função da Aids e de suposto “comportamento promíscuo”. Contra o bom mocismo dos caretas anos 90, professam que a boa é sair, dançar e se divertir com os amigos.

O lançamento vem puxado pelo single de “Blind”, com um vocal maravilhoso de Antony. Quer ver o clipe? Então clique aqui. Quem conhece o trabalho anterior de Antony (“I’m a Bird Now”) pode estranhar sua ligação com um projeto disco, mas além de sua performance de cabaré e sua voz de Billie Holiday, ele já declarou ter se inspirado em Boy George. Antony canta em cinco das músicas do CD e, além de “Blind”, chama nossa atenção em “Easy” e “Time Will”. O vocal da transexual Nomi em “You Belong” e o canto arrastado de Kim Ann em “Íris” fecham a proposta do grupo. Faixas com todos juntos como “Hercules Theme”, “This is my Love” e “True False, Fake Real” são passaporte carimbado para uma noite qualquer do final dos anos 70.

Acima de tudo, a música que fazem é da maior qualidade, tanto na produção dividida entre Andy e Tim Goldsworthy (LCD Soundsystem), como nos vocais maravilhosos de Antony, Nomi e Kim Ann. A disco music, desprestigiada que estava, volta a fazer parte da sonoridade atual, deliciando antigos admiradores e apresentando suas armas às novas gerações.

Quer ouvir? Clique aqui.


Tradução livre de “Blind”:

“Quando era criança eu achava que as estrelas iriam brilhar, sempre, cada vez mais, e a gente chegaria perto, cada vez mais perto, deixando pra trás esta escuridão. Agora que eu cresci, e que deveria dar de cara com as estrelas, vejo que estou só e sinto como se estivesse cego. Tudo o que eu queria agora era que as estrelas brilhassem como estivessem perto, próximas. Mas no presente elas não estão presentes. Eu queria agora que uma luz iluminasse como se estivesse perto, próxima. Mas no presente ela não está presente e torna dolorosamente claros meu passado e meu futuro. Para eu ouvir você agora, e para ver você agora, eu preciso ver de fora, perceber o jeito que respiro e olhar pra dentro de mim. Porque estou cego.”

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