Em minha pesquisa, eu capturei todas as cenas de Clara e Rafaela e, antes de analisá-las, contei o tempo total de aparição das duas em relação ao tempo total da novela. Foi assim que eu descobri que, quantitativamente, elas representaram cerca de 1 a 1,5% de toda a trama.
Qualitativamente, foi outra história. As cenas das duas foram bem construídas, com muita tensão e muita emotividade. Fosse em uma cena romântica, ou em um conflito com a Paulinha ou com a mãe da Clara – personagens obviamente antipáticas, que criaram o par de opostos com o casal e lhe deram uma posição positiva perante o público – o impacto emocional sempre era forte. A imprensa da época chamou a atenção para a descoberta da sexualidade das meninas, com ênfase na questão dos primeiros beijos, que muitas trocavam entre si antes de experimentarem com rapazes.
O fato de ser um casal de mulheres jovens e bonitas mexeu muito com a imaginação masculina (sim, é um fetiche machista e, nesse ponto, pode ser considerado negativo) e muitos homens ansiavam por ver as duas juntas em cenas mais íntimas – o mesmo aconteceu com Leo e Genifer em "Senhora do Destino". Mas, mesmo sendo por uma razão machista, isso acabou reforçando ainda mais a imagem das duas.
Esse fenômeno é mais comum do que se pode pensar à primeira vista. Mesmo ainda sendo personagens secundários e que, muitas vezes, só estão na trama por serem homossexuais (ou seja, não são médicos, engenheiros, bandidos, empresários; são primariamente gays e lésbicas, essa é a principal faceta que apresentam ao público), esses personagens chamam tanto a atenção do público que, algumas vezes, são mais lembrados do que os protagonistas.
É só fazer uma enquete rápida: de quem as pessoas se lembram melhor em "A próxima vítima"? Do assassino ou do casal Sandro e Jefferson? E em "América", o público assistiu mais para ver o final da Sol ou para conferir se haveria ou não o beijo entre Zeca e Júnior? E em Mulheres Apaixonadas, mesmo, tem gente que nem se lembra como a Helena e suas irmãs terminaram, mas se lembram claramente do beijo teatral de Clara e Rafaela no último capítulo.
Em suma, por menor que seja sua participação, LGBT chamam muita atenção em novelas. Para o bem ou para o mal. Só espero que essa visibilidade venha a ser melhor aproveitada no futuro.
*Eduardo Peret é jornalista e mestre em Comunicação pela UERJ. Acesse o blog dele http://ocabideiro.blogspot.com/
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