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Histórias de dentro e fora do armário: jovens relatam dificuldades de se assumir

Podemos afirmar que, em certa parte, a comunidade GLBT nunca vislumbrou tantos avanços, isso em várias frentes: na TV temos personagens gays em duas novelas das oito consecutivas, revistas impressas voltadas para o público gay permeando as bancas de jornal, seriados GLBT com grande audiência, a Conferência Nacional GLBT convocada pelo governo federal… Mas, como será que andam as relações familiares? Com estes avanços os pais estão lidando melhor com os filhos que do armário saem? E os filhos têm conseguido melhor se relacionar com a questão de aceitação quanto a sua sexualidade? Sair do armário tornou-se mais fácil?

“Ainda não saí do armário para a minha família por que tenho medo de ser expulso de casa, da não aceitação ao saberem disso. Comentei uma vez com a minha mãe, mas ela nunca mais tocou no assunto”, afirma Octávio*, 22 anos, estudante de psicologia. Parece que em alguns lares a história não mudou muito, será? “Devido à amizade com minha mãe resolvi contar primeiro pra ela. Pensei em várias maneiras, mas não tive coragem de soltar essa bomba em suas mãos pessoalmente. Não queria que ela soubesse por outras pessoas, então resolvi escrever-lhe uma carta e a deixei em cima da mesa da cozinha de casa. Quando ela chegou do trabalho a noite estava com os olhos inchados de tanto chorar” conta Alan*, 18 anos, estudante de fisioterapia.

“Eu estava no início da faculdade quando comecei ir pra boates gays, e meu irmão desconfiou e começou a vasculhar minha vida. Certo dia ele fuçou minhas pastas no computador e viu fotos de 2 amigos meus beijando, no desespero ele imprimiu a foto e mostrou para meus pais. Quando cheguei da faculdade a noite estavam os dois ali parados (meu pai e minha mãe), sentados na minha cama. Eu com uma certa desconfiança. Logo de cara já perguntei o que tava acontecendo, eles pediram para eu ser sincero com eles, e eu perguntei o que estava ocorrendo, e vejo a minha mãe com uma folha A4 com uma imagem, perguntaram se era eu, eu disse que não, depois questionaram se eu fazia aquilo, e eu disse que sim. A partir desse momento tudo ficou em silêncio, logo em seguida, choros e berros desesperados, como se eu estivesse matado alguém. Foi horrível”, relembra Fernando, 23 anos, graduado em publicidade.

Octávio ainda digladia-se com o armário e sofre com o silêncio de sua mãe, Fernando teve que confessar como se fosse um criminoso, Alan uma carta deixou a sua mãe, que muito chorou. Mas o que vem depois? Alan segue contando que naquela noite conversaram muito, “estabelecemos regras e choramos, como nunca. Mesmo ela tendo afirmado que nada mudaria entre nós, que me amava e que aceitava tudo numa boa as coisas não aconteceram bem assim… Seguiram-se dias de silêncio total, denso e pesado em casa. Dias em que mesmo acompanhado me sentia sozinho e que minha única companhia eram as paredes do meu quarto e meu namorado aos finais de semana”. Fernando disse que teve que escutar absurdos, principalmente do seu pai, que chegou a perguntar se ele “dava ou comia”, “Eles achavam que eu ia sair dali e colocar logo uma saia, silicone e operar. Nem por isso eu deixei de lutar, assumi a minha identidade. Foram dois intermináveis meses, pois minha família é muito conservadora. Cheguei ouvir o absurdo do meu pai. ‘Mas você dá ou come? ’ Fiquei totalmente puto com isso e perguntei de que maneira ele transava com a minha mãe. Ele ficou sem resposta. Passei por situações até de sair de casa por não agüentar mais o preconceito."

Já Octávio assume que carrega um peso, que relações terminam por conta disso, mas mesmo sabendo disso, ainda não se sente preparado, “eu sei que quando eu fizer isso será um peso a menos. Penso nisso todos os dias. Isso me trava em várias questões, é algo que está em todos os momentos da minha vida”. Mas, como gosta muito de sua família tem receio da reação deles, “desde que contei pra minha mãe ela  nunca mais tocou no assunto, isso é terrível, as vezes estamos na sala e agora com essa coisa de gays nas novelas das oito, quando aparece ela solta, ‘dois homens! Credo, que nojo’.  Entendo isso como um recado”.

Alan diz que hoje ele se considera metade fora do armário e a outra parte dentro, pois apenas a sua mãe e alguns amigos sabem, Fernando saiu de casa, pois em momento algum cogitou a idéia de abrir mão do que sente e do que é, e hoje tem o apoio dos pais. Octávio vive dentro do escuro armário, que parece não lhe mostrar saída, mas ele assume que, no dia em que contar tudo será melhor para si e que pensa nisso diariamente. São três vidas, com respectivas particularidades, mas que podem se espalhar aos milhares pelo Brasil afora. O medo de ser, o estranhamento frente ao inesperado, e por último a saída de casa.

Com tal panorama, evoluímos?
 

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