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“Hoje a epidemia de Aids é predominantemente heterossexual”, diz Mariângela Simão

Mariângela Simão é diretora do Programa Nacional de Combate ao HIV/Aids e marcou presença na abertura da V Conferência Ilga – Lac, que aconteceu entre os dias 25 e 30 de janeiro na cidade de Curitiba.

Momentos antes da abertura, da qual participou, Mariângela conversou com a reportagem do A Capa e revelou que a próxima campanha de prevenção ao HIV/ Aids do Carnaval será focada em meninas e jovens gays. Também assumiu que ainda há sim homofobia no Sistema Único de Saúde (SUS).

Na conversa que confere a seguir, Simão aplaudiu a iniciativa do governo do Estado de São Paulo referente a criação do ambulatório voltado para travestis e transexuais. Mas fez uma ressalva. Para ela as travestis e transexuais tem o direito de serem atendidas "dignamente em qualquer lugar".

A ultima pesquisa sobre infecção por HIV/ Aids aponta uma incidência muito forte de contágio entre jovens gays e héteros. De que maneira a secretaria tem atuado para diminuir tais números?
O ministério tem observado que entre jovens gays a epidemia está se mantendo estável, com exceção da faixa etária de 13 a 24 anos, nessa idade a curva está crescendo assim como nas pessoas adultas acima de 50 anos. E a questão dos jovens gays é uma observação que se vê em outros países e para isso pode haver várias razões: eles não estão usando o preservativo de forma consistente, pois não adianta usar uma vez e não usar mais…

Uma recente pesquisa do Estado de São Paulo apontou o uso de drogas ilícitas e álcool como fortes fatores para o não uso da camisinha…
Isso sempre será um fator que aumentará a vulnerabilidade de qualquer situação de risco.

O que a senhora acha da criação de ambulatórios voltados para o atendimento de transexuais e travestis?
Tem questões que são especificas das travestis e das transexuais e a experiência de São Paulo é algo que a gente vai ver como se dá. Agora,  acho que todo cidadão brasileiro tem o direito de ser atendido com dignidade dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, existem especificidades da população trans que são as referências minimamente adequadas.

Como assim?
Por exemplo: quando você faz uma cirurgia de transexualização, esta paciente vai voltar cedo ou tarde, pois, todas elas, no futuro terão problemas com próteses. Então, isso é uma especificidade que você vai ter que tratar em um ambiente que seja livre de discriminação. Vemos com bons olhos essa experiência de São Paulo, mas não quer dizer que em todos os lugares você terá que ter isso, pois os direitos delas (travestis e transexuais) é ser atendida em qualquer lugar.

Acredita que ainda hoje a comunidade LGBT é vista como uma população de risco pelos profissionais da saúde?
Ainda existe muito preconceito na sociedade e existe a homofobia institucional. Por mais que os governos Municipais, Estaduais e o Federal façam leis ou portarias de regulamentações para proteger os direitos ainda temos questões que são individuais. A homofobia é uma questão que está presente na sociedade e o serviço de saúde muitas vezes está abaixo das pessoas… As prostitutas relatam serem discriminadas no serviço de saúde…

Então há homofobia entre os funcionários de saúde?
Com certeza. Como há na sociedade, você tem homofobia entre os funcionários da saúde. Mas isso cabe o contrário também. Quando você tem o caso da epidemia de Aids entre mulheres, o médico não suspeita do diagnóstico. Como em casos de senhoras casadas, monogâmicas e que, entre aspas, não têm situação de risco. Esse tipo de coisa que ainda permeia o imaginário do funcionário de saúde faz com que essas mulheres tenham um diagnóstico tardio.

Ainda existe os tais grupos de risco?
Hoje a epidemia no Brasil é predominantemente heterossexual, até pelo fato da maioria da população ser hétero. O que nós temos a partir do ponto de vista da incidência, que é chamada de risco é: a chance de um gay ou de um HSH (Homens que fazem sexo com homens) de contrair um o HIV é de 11,25% maior de que um heterossexual. Então, falar de grupo de risco você pode jogar para algum grupo e dizer que a Aids é problema de um grupo específico e não é. A prevenção do HIV e da Aids é de toda pessoa que tem vida sexual ativa, mas existem alguns grupos que são mais afetados do que os outros. Esse ano a campanha de prevenção no Carnaval é de meninas e jovens gays de novo.

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