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Homens trans falam sobre invisibilidade: “Não vale a pena compactuar com a transfobia”

"Onde estão os homens trans? Estão aí no meio do pessoal, quietinho, com medo de sofrerem transfobia. Mas apesar disso tem gente que também vai à luta", declarou o militante Leo Barbosa, no encontro com homens trans que ocorreu nessa terça-feira (27), no SP Tranvisão.

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O debate, que reuniu os militantes Luciano Palhano, Alexandre Peixe dos Santos, Gil Santos, Samuel Silva e o ator Leo Moreira Sá, discutiu invisibilidade e foi uma das ações da semana da Visibilidade Trans, promovida pela SP Escola de Teatro, em São Paulo.

Com a mediação de Fernanda de Moraes, do Fórum Paulista de Travestis e Transexuais, os homens trans falaram sobre saúde, família, transfobia, construção da identidade, invisibilidade e a importância de se mostrarem como movimento.

Gil Santos discursou sobre a identidade do homem trans e afirmou que não é uma barba ou a mastectomia masculinizadora (a remoção dos seios) que faz de alguém homem. Ele também disse que o nome social deve ser o principal direito a ser conquistado. "A pessoa é homem trans a partir do momento que se declara como tal. E eu brigo pelo nome social, porque é por meio dele que começa o respeito, pelo seu nome".

INVISIBILIDADE

Apesar de os homens trans estarem em maior evidência nos últimos anos, o grupo não representa uma identidade contemporânea. O medo de se expor e de sofrer preconceitos – bem como o relatado pelo estudante Bernardo Gonçalves, que foi agredido ao ir ao banheiro masculino – é uma das justificas que leva muitos homens a buscar a invisibilidade – quando a pessoa não quer ser reconhecida como trans.

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Leo Moreira Sá explica que, além do medo da transfobia, a invisibilidade "é conveniente a muitos homens trans, pois concede privilégios numa sociedade machista". E que ao se revelar homem trans, nesta mesma sociedade cisnormativa e falocentrica, "é como renunciar tais privilégios".
 

"Quando conheço uma pessoa, digo imediatamente que sou homem trans, porque quero relacionamentos verdadeiros e não quero que ela se relacione durante algum tempo com aquele velho conceito de homem. Não vale a pena compactuar com a sociedade que te exclui, que te violenta e que te mata todos os dias. Não vale a pena compactuar com a transfobia", declarou.

Leo Barbosa concorda: "Eu não me assumo como homem. Eu me assumo como homem trans. Porque eu quero os meus direitos como homem, mas também quero que a minha transexualidade seja aceita".

TRANSFOBIA

Ao comentar sobre transfobia, Luciano Palhano revelou que o filme Meninos Não Choram – de 1999, que conta a história do homem trans Brandon, que é estuprado e assassinado – expõe claramente o tipo de preconceito que homens trans sofrem. Ele afirma que até mesmo os que estão invisíveis sempre estão sujeitos a passarem por constrangimentos no âmbito privado.

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"Você fica invisível, mas o corpo continua ali. (…) Existe desde a dificuldade de contar para a namorada, que pode te abandonar e contar para outras pessoas, o estupro, a ida ao ginecologista e a dificuldade de ir ao banheiro masculino e só ter mictório. A maioria dos homens trans que conheço foram estuprados".

Leo Barbosa afirma que se assumir homem trans "é correr o risco de ser sozinho para sempre", mas que vale a pena lutar pela identidade. “O ponto fundamental é lutar para ser você mesmo. Quando você deixa de lutar, as pessoas montam em cima e você acaba se pagando. Não se deixe apagar”. 

O encontro reuniu histórias de pessoas que passaram pela transição de gênero recentemente, como Samuel, que afirmou ainda sofrer com o não reconhecimento da identidade masculina. E de veteranos, como Alexandre, um dos primeiros homens trans a militar politicamente no Brasil, que revelou a história de ser pai e avô.

O SP Transvisão tem programação até este sábado (31). Confira a programação clicando aqui.

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