Publicado hoje no periódico "Trends in Ecology and Evolution", um estudo da revisão de pesquisas já feitas sobre relações homossexuais animais aponta que estas são quase universais e podem ser agentes importantes na mudança evolutiva.
"A grande questão é como explicar qual é o sentido evolutivo", disse César Ades, etólogo (especialista em comportamento animal) da USP (Universidade de São Paulo) ao jornal Folha de São Paulo.
Os autores do novo estudo, Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, explicam citando as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Havaí.
Essas aves se unem em casais lésbicos que às vezes duram a vida inteira para criar os filhotes, especialmente quando há escassez de machos. Até um terço dos casais da espécie são formados por fêmeas. O resultado é que elas têm mais sucesso do que fêmeas "solteiras" na criação dos filhotes. O comportamento homossexual, portanto, muda a dinâmica da população – e pode ter consequências evolutivas importantes.
O estudo disserta que não existe apenas uma vantagem universal e, sim, que a homossexualidade ajudou as espécies de diferentes formas ao longo da evolução.
Segundo Carlos Ades, "existe homossexualidade numa variedade grande de animais: moscas, lagartos, golfinhos. Qual animal tomar como medida para comparar conosco?", questiona.
Os mais próximos de nós, humanos, são os bonobos. As fêmeas dessa espécie de chimpanzé são vistas frequentemente se relacionando sexualmente – e não raro atingem o orgasmo dessa maneira. Alguns machos se beijam e praticam sexo oral uns nos outros.
De acordo com o estudo, o comportamento homossexual é diferente de orientação sexual. Boas explicações para o primeiro item no reino animal foram encontradas, mas ainda é complicado entender quais as vantagens evolutivas que se pode ter simplesmente nunca se relacionando com seres do outro sexo.
Dentre as explicações, o estudo exemplifica os motivos para diferentes animais terem o comportamento homossexual:
O primeiro, para fazer as pazes: Nada melhor do que o sexo para criar um ambiente de intereção que facilite reconciliações. É visto no macaco japonês;
Por engano: Algumas espécies não possuem maneiras boas de saber quem é macho e quem é fêmea. É visto no peixe mexirica;
Para formar alianças: Relações entre indivíduos do mesmo sexo permitem a formação de fortes laços, prevenindo conflitos. É visto nos golfinhos-nariz-de-garrafa;
Para praticar: Indívíduos com pouca experiência sexual aprendem a cortejar com animais do mesmo sexo. É visto na mosca-das-frutas;
Para reforçar a hierarquia: Para mostrar quem manda em que quem, os bichos estabelecem relações de poder através do sexo homossexual. É visto nos bisões;
Para criar os filhos: Fêmeas podem se unir depois de a prole nascer, tendo mais sucesso do que as não-lésbicas. É visto nas albatrozes-de-laysan.