Estava eu, linda, tomada banho, cheirosinha e envolta em meu baby-doll rosa com plumas brancas, pronta para deitar em meu lençol de cetim e dormir feito a própria Bela Adormecida, quando, de repente, não mais que de repente, um amigo me diz: "Beesha… Beesha… Liga ááágora no Super Pop, pois a Luisa Marilac vai debater com o tal de deputado sem muita importância e sem propostas concretas". Na verdade, ele não disse exatamente assim, ele disse o nome do tal deputado sem muita importância, no entanto, acho que é assim que nós gays, lésbicas, bissexuais e trangêneros devemos tratar o tal deputado sem muita importância e sem projetos concretos a apresentar. Afinal, concluo eu, só alguém com uma vida bem pouco interessante e uma carreira política com poucas ou nenhuma proposta de peso, para se preocupar tanto em perseguir uma parcela da sociedade que é, sequer, plenamente reconhecida pelo Estado e "fazer mídia" em cima desta temática dita polêmica.
Confesso que não me interessei muito pelo programa, mas mesmo assim decidi fechar o potinho de Renew 85-95 (não que eu tenha esta idade, mas gosto de tratamentos radicais) e ligar a televisão, afinal, pensei, será no mínimo engraçado ver a Luisa Marilac tomando "uns bons drink" com o deputado. Com o canal um pouco falhado, pedi ao meu namorado que subisse no telhado e virasse a antena 36 graus ao norte. Imagem sintonizada e vejo que Luciana Gimenez estava de volta, depois de sua licença maternidade, e apresentava os convidados da noite. De um lado, o tal deputado sem muita importância, Agnaldo Timóteo, e um pastor evangélico que se diz "ex-gay" (ahaammmmmm, já diria Michelle Summer). Do outro lado do palco estavam a ex-BBB Angélica Morango -, não é lá muito fã do codinome frutífero, pelo que notei – e Felipe Campos, ator e jornalista, ambos assumidíssimos e bem resolvidos. Luisa Marilac, a atração da noite, viria no bloco seguinte.
Eis que Luisa, a mais nova sensação da web, surge no palco em seu modelito, mostrando o corpão que Deus lhe deu, e o que não deu, ela comprou e tá óóóóóóóótimo. E sabe o que eu achei? Maravilhoso… Foi "dois minuto" e ela acabou com o Agnaldo Timóteo, o pastor ex-gay e o tal deputado. E foram literalmente menos de dois minutos para que Luisa dissesse o que todo e qualquer gay tem vontade de dizer na cara de pessoas medíocres como essas que se levantam para se declararem guardiãs da moral e dos bons costumes. Aliás, penso que as atitudes dessas pessoas, os argumentos que usam e a forma como tratam o tema são coisas tão bizarras que me parece algo folclórico. E Marilac (não sei se já tava com uns bons drink na cabeça) não necessitou de conhecimentos filosóficos ou argumentos intelectuais e respondeu à altura com aquilo que a vida lhe ensinou. Veja um trecho da tra-vies-tchyyy, no programa:
Porrrãnn… Ou melhor, porém, o que mais me chamou a atenção no programa foi um outro trecho, antes mesmo da TTT (travesti top trends), Luisa aparecer na telinha, quando Felipe Campos arranca Agnaldo Timóteo do armário:
Bee, confesso que ri muito. Num deslize, Felipe comenta sobre a homossexualidade de Timóteo. Mais engraçado foi ele rebatendo: "Não sou não. Eu sou um homem total e absolutamente liberado… Completamente equivocado… Eu não exponho os meus romances, eu não exponho minhas relações. São privadas e respeitosas. Nem assumido, nem desassumido".
Depois, ao longo do programa, vi que tanto para Agnaldo e para o tal deputado sem importância, o fato não é ser ou não ser gay. O fato é como isso é tratado pelos homossexuais. Segundo o que pude perceber dos depoimentos deles, o ideal é que a homossexualidade fique guardada entre quatro paredes, escondidas nos guetos e trancafiadas eternamente nos armários. A homossexualidade não deve ser assumida, deve ser varrida para debaixo do tapete, como algo a ser escondido.
Não estou dizendo que eles sejam enrustidos, até porque não tenho prova nenhuma disso, mas me pergunto: por que gays enrustidos têm uma postura tão violenta com os gays resolvidos e assumidos? Eu, euzinha aqui, conheço homens que têm vidas duplas: socialmente são homens casados, pais de família e modelos típicos do machão, porém, na clandestinidade são, como disse Luisa Marilac "todos iguais, se não dá, chupa". Alguém me explica?
Tá dado o recado…
Beijo, beijo, beijo… Fui…