Fiódor Dostoievski (1821-1881), escritor russo que faz parte dos mestres da literatura mundial. Como todo imortal a sua obra é atual até hoje. Mas, em Dostoievski certas coisas chegam a ser assombrosas de tão atuais, realistas e pessimistas… E parecem que foram escritas ontem. Sim, a obra dele não é fácil e também não há finais felizes.
Sempre escutei o nome de Dostoievski e de “Crime e castigo”, a sua grande obra, por todos os lados, mas nunca tinha lido nada dele até 2004, quando em um passeio pela livraria da universidade onde estudei me deparei com uma obra chamada “O idiota” e o nome dele ao lado. Fiquei intrigado e resolvi dar uma olhada na sinopse. Amei, ainda mais depois de saber que Fiodor influenciou gente como Nietzsche e Kafka. Comprei e me apaixonei. Nunca havia lido nada parecido e forte como aquela obra.
No ano passado pediram à colunista da revista Caros Amigos e escritora Ana Miranda que fizesse uma lista com dez autores que ela acredita ser necessária a leitura básica. Ela indicou Fiódor e definiu assim: “Se você quiser entender os seres humanos leia qualquer um do Dostoievski”. É exatamente isso. De tudo que já li nunca vi um escritor ir tão a fundo à alma humana. No que há de melhor e no que há de pior.
Em todas as obras de Fiódor Dostoievski encontramos o tema da religião, a moral, o vício, o amor entre homens (não o amor sexual), a ambição e principalmente a traição. As personagens de Dostoievski estão sempre no limiar da moral, tal questão pode ser conferida no incrível “Os irmãos Karamazov”. Podemos ir a fundo à miséria humana com “Crime e castigo”, nos divertimos com a solidão em “Memórias do subsolo”. Podemos também saber o que Fiódor passou em seu tempo de exílio na Sibéria em “Recordações da casa dos mortos”, do amor lésbico e juvenil com o belo conto “Niétotchka Niezvânova”, esse é lindo…
Tenho o meu preferido, que é “Os demônios”. Obra fundamental para se entender um tanto da breve vida política a qual viveu Dostoievski e quase lhe custou a vida. Para quem não sabe ele fez parte de um grupo anarco literário que desejava ver o fim do império Czarista. Caíram e foram todos para o paredão da morte. Segundos antes de ser executado, a sua sentença foi cancelada e ele foi exilado por dois anos na Sibéria.
Enfim, “Os demônios” parte de um fato real, quando um jovem anarquista foi assassinado por outros jovens socialistas. A Rússia vivia o momento de nascimento das ideologias do socialismo, anarquismo e niilismo. Assim como hoje, todos esses grupos se matavam. Então, Dostoievski parte do principio que: estes sujeitos serão capazes de tudo para chegar ao poder, nem que para isso tenham que matar. Sem saber ele antevia Hitler, Stalin e Mussolini. O livro é foda. São mais de 700 páginas, mas vale a pena. Sem brincadeira, a melhor coisa que já li até hoje. Fica a dica.
Bom, e desde 2004 que tirei pra mim a missão de ler todas as obras do moço, falta muito ainda, ainda mais agora que tenho que conciliar com os trabalhos acadêmicos, sobra menos tempo e Dostoievski requer tempo, dedicação, atenção e reflexão. Mas da pra ler no ônibus. No momento estou lendo “Humilhados e ofendidos”. Como bem indica o título ele disseca sobre quatro personagens que vivem o cotidiano entre humilhações, miséria, orgulho e, acima de tudo, mesmo com tudo indo mal, se unem pela amizade e pelo acerto de contas.
Enfim, faz tempo que quero falar dele. Se você ainda não leu nada do tio Fiódor Dostoievski eu indico “Os irmãos Karamazov”. Acabou de sair uma edição da Editora 34 com tradução direta do russo para o português. Incrível. Aliás, as editoras Nova Alexandria e a já citada Editora 34 têm traduções impecáveis diretas da língua originária de Dostoievski, o que nos permite perder muito pouco de sua narrativa e estética literária.