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Idade adulta x Busca da felicidade

Curtindo um domingo de ressaca em casa, me peguei assistindo à reapresentação do programa Altas Horas, de Serginho Groisman, no Multishow (palmas para a iniciativa do canal de apresentar o ótimo programa em horário decente). Fui absolutamente envolvido pela história das garotas paulistanas que tomaram as capas dos jornais quando fugiram de suas casas e foram tentar viver a vida segundo suas próprias regras.

Como qualquer outra pessoa preconceituosa que assistiu suas trajetórias na mídia, fiquei esperando durante toda a entrevista o momento em que elas mostrariam seus traços irresponsáveis, a revolta, o ódio dos pais, o amor romântico entra as duas ser revelado, talvez (sim, este foi um dos meus palpites quando soube da história)… Mas fui surpreendido pela lucidez das duas meninas e a maneira convicta com que se apresentaram. Cheguei à surpreendente conclusão: Ana Lívia e Giovanna são normais! Talvez bem mais do que eu e você, inclusive.

Em muitos momentos da entrevista, elas diziam que não havia nenhum tipo de problema no que haviam feito, pois haviam fugido atrás somente da felicidade delas. Fiquei pensando que felicidade era esta que as duas perseguiam? Será que eu não a conhecia ou seria este ideal um quadro pintado por todas as cores da aquarela de utopias adolescentes?

A verdade é que as duas colocaram uma porção de dúvidas na minha cabeça, junto de suas palavras. Eu lembrava, enquanto as ouvia, das minhas conversas na mesa do bar da faculdade em que uma das pautas recorrentes era o medo de virar adulto. E assim, enfim, me acostumar a uma vida de responsabilidades e amarras. Será que as duas fugiam do dia em que a vida adulta das duas chegaria? Será que longe de suas famílias, as duas não sofreriam as cobranças quando a hora chegasse de se instalar no terreno do previsível?

Freqüentemente, me pego fugindo deste título: adulto. Acredito que, existe um estigma (dentro e fora de mim) muito pesado para descrever este lugar que é muito perto da perda da inocência que ainda resiste em cada um de nós e longe das satisfações de fácil procedência. Não posso me colocar no mesmo patamar de todas as pessoas, porque as pessoas que tentam e acreditam que conseguirão viver de sua arte, se assemelham às crianças. É como se minha inocência estivesse quase intacta e minha ingenuidade também.

Enfim, me compadeci da trajetória das garotas que estão sendo escangalhadas pela patrulha dos bons costumes. Simplesmente porque não as entendem. Mas será que as pessoas tentaram, ao menos como exercício de humildade, lembrar do que era ter a idade delas, em que as satisfações precisam ser imediatas e apoteóticas? Ou a pratulha existe justamente porque as pessoas conseguiram se enxergar em Giovanna e Ana Lívia, em cada descrição de suas buscas e cada piscar de seus olhos cheios de brilho e sem qualquer arrependimento?

Será que o incômodo vem justamente do fato de conseguirem se enxergar nos sapatos das duas, mas sem coragem para iniciar uma caminhada semelhante? Aplaudo a coragem das duas de seguirem atrás de um ideal, sem querer saber se ele existe ou não, se estava aqui já e elas não perceberam ou se o encontrariam na próxima esquina. O risco é o ponto principal desta história. Havia muitos, mas elas deram suas mãos e colocaram os pés na corda bamba mesmo assim. O que viria? A queda? Ou a ovação? Elas não sabiam, mas foram.

Amigos em solo firme, como eu, não estaria na hora de correr algum risco que de tão adiado já está oculto à sua consciência? Faça um auto-exame e previna-se desta doença!

Vida de gado…

Ser mulher