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Ilga: Igreja católica e pentecostal são os piores inimigos da comunidade gay

Durante os dias 25 e 30 de janeiro a cidade de Curitiba (PR) recebeu a V Conferência Ilga – Lac, encontro que promoveu a interface entre ativistas LGBT da América Latina e do Caribe. As discussões foram intensas e poliglotas; o saldo é positivo e os inimigos velhos conhecidos: em todo território latino a luta se dá de maneiras quase que distintas, mas contra os mesmos inimigos: o conservadorismo religioso e a homofobia institucional dos aparelhos do Estado e das empresas privadas.

Além dos debates que já acontecem no Brasil a cerca de leis contra a homofobia, ou que permitam casais homossexuais se unirem legalmente ou adotarem, o encontro promoveu o intercâmbio com realidades que muitos dos presentes não imaginam como é. Como, por exemplo, ativistas do Caribe afirmando  em reuniões que enquanto os brasileiros lutam por direitos, eles lutam para não serem presos.

A criminalização da homossexualidade permeou mais de um debate. Para muitos ativistas ali presentes essa luta tem de ser travada. É necessário que governos de países democráticos intercedam de forma pacífica, por meios diplomáticos, para que países do Caribe não mais criminalizem a comunidade LGBT. Em toda a América Latina e Caribe 15 países ainda mandam pra cadeia os homossexuais, quando não os matam.

Se por um lado o Brasil está entre os países que não reconhecem direitos de fato a sua comunidade gay, na outra ponta os países da região latina não conseguem estabelecer contato com o executivo e raramente são recebidos por representantes do governo federal. Quem mais falou a respeito das relações institucionais entre movimento gay e governos foi a ativista lésbica mexicana Gloria Careaga.

Em suas palavras Careaga revelou ter ficado emocionada com a presença do Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, na abertura oficial da Ilga – Lac. "Isso é impensável em nosso país. No máximo que eles fazem é mandar uma carta e olhe lá". Segundo a ativista, o governo de Felipe Calderón nunca recebeu o movimento homossexual. "Não existe qualquer tipo de dialogo com o governo dele", revela.

Focar nas mulheres
Talvez a palestra da Unaids (órgão da ONU que cuida da questão do HIV/ Aids) tenha sido a que mais gerou reações polêmicas, principalmente entre as meninas. Jandira Queiroz, ativista lésbica de Brasília, pediu a palavra e disse aos representantes da Unaids que não era mais possível que as campanhas e pesquisas ficassem sempre focadas em homens gays e HSH e que "é necessário focar também nas mulheres". Como resposta, porta-vozes da Unaids disseram que o foco está certo, pois "a incidência do HIV é maior entre homens gays e HSH" e que a ocorrência da Aids entre mulheres lésbicas "é ínfima".

Esquerda e direita
Se há uma diferença gritante entre o movimento gay brasileiro e o do resto da América Latina é a questão da relação deles com a política. Quase todos os discursos dos representantes de países como Peru, Uruguai e Venezuela, para ficar nesses, faziam questão de deixar claro suas inclinações à esquerda. Parte do movimento mexicano era até mais radical ao optar pelo não-dialogo com setores conservadores da política. Coisa que não ocorre no Brasil.

Outro dado interessante é a ligação partidária das Ongs latinas. No Brasil o tema é polêmica e divide o movimento, enquanto com a maioria dos ativistas estrangeiros a relação partidária/política é natural. Fato notório entre as ONGs latinas é que muitas delas não realizam a sua luta isoladas e sim em parceria com outros movimentos, como é o caso da Bolívia, em que parte do movimento gay está junto com o movimento indigenista. Para eles a luta não é apenas pela "livre sexualidade, mas também pela identidade". Como bem disse Beto de Jesus é preciso que o movimento gay brasileiro "saia do gueto".

O saldo final da V Conferência Ilga – Lac é rico e positivo. De uma maneira geral a estrutura da homofobia é idêntica em toda a América Latina e Caribe. Em alguns lugares mais graves, em outros nem tanto. Como afirmou a ativista mexicana Gloria Careaga, "temos alcançado muitos bons resultados e as dificuldades são parecidas, mas ainda vivemos com os horrores da Nicarágua e do Panamá. Também não queremos mais ativistas LGBT assassinados em Honduras".

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