Mais de dois meses após a morte do primeiro imam gay, comunidade LGBTQIA+ clama por justiça e fim da intolerância religiosa
O assassinato brutal do imam Muhsin Hendricks, em fevereiro, ainda reverbera como uma ferida aberta na comunidade LGBTQIA+ e nos setores progressistas da fé na África do Sul. Reconhecido globalmente como o primeiro imam abertamente gay do mundo, Hendricks era uma voz de amor, inclusão e coragem — valores que sua morte trágica não apagou, mas reforçou com urgência a necessidade de justiça.
A demora da justiça e o sentimento de traição
Passados mais de dois meses desde o crime ocorrido em Gqeberha, não houve prisões e as investigações ainda estão em andamento, conforme comunicado da polícia local. Essa lentidão tem sido fonte de profunda frustração para amigos, ativistas e aliados, que veem o silêncio institucional como uma forma de negligência diante da violência contra pessoas LGBTQIA+.
Para Sikhander Coopoo, ativista e amigo próximo de Hendricks, a impunidade é uma mensagem cruel que perpetua a ideia de que vidas queer são descartáveis. “Cada dia sem justiça é um lembrete doloroso de que nossas existências são invisibilizadas e ameaçadas”, afirma.
O desafio da intolerância religiosa e o discurso de ódio
Poucos dias após o assassinato, um sermão inflamado de um líder religioso local rotulou Muhsin como apóstata e condenou a homossexualidade como um pecado grave, inclusive defendendo a pena de morte para atos entre pessoas do mesmo sexo. Essa retórica não só agrava a dor da comunidade como alimenta o clima de medo e violência.
Além disso, relatos de uma “lista de alvos” contendo nomes de pessoas LGBTQIA+ e aliados têm circulado entre grupos conservadores muçulmanos, aumentando a sensação de perigo iminente para muitos.
Legado de coragem e espiritualidade inclusiva
Imam Muhsin Hendricks deixou um legado poderoso de resistência e amor. Ele foi um pilar para a reconciliação entre fé e diversidade sexual, mostrando que é possível ser devoto e queer simultaneamente, uma combinação sagrada e necessária para muitos.
Organizações como a Inclusive and Affirming Ministries (IAM) destacam que o maior obstáculo para a segurança e dignidade LGBTQIA+ reside no fundamentalismo e na ignorância, e que a religião, quando interpretada com compaixão, pode ser uma força de acolhimento e libertação.
Um chamado urgente à ação e proteção
O assassinato de Muhsin Hendricks e o discurso de ódio subsequente colocam em evidência a urgência de combater a intolerância religiosa e o preconceito contra pessoas LGBTQIA+. A comunidade exige não apenas respostas, mas também responsabilidade dos atores que perpetuam discursos que podem incitar violência.
Este momento doloroso é também um chamado para manter viva a luz que Muhsin representava, para proteger e celebrar as vidas queer dentro e fora das religiões, e para lutar por uma sociedade onde ninguém tema por ser quem é.
Quem tiver informações relevantes sobre o assassinato pode entrar em contato com as autoridades locais de forma confidencial, contribuindo para que a justiça finalmente seja feita.