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Importância de Rogéria em “7 – O Musical” é vital para estabelecer contraponto à dramaticidade

Depois de cumprir duas temporadas de sucesso no Rio, estreou ontem no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, o espetáculo “7 – O Musical”, que tem a assinatura da bem-sucedida dupla Charles Möeller e Claudio Botelho em parceria com o cantor e compositor Ed Motta.

A junção dos talentos de Möeller e Botelho, cujos nomes já se tornaram sinônimo de bom entretenimento no país, contribuem para um espetáculo deslumbrante, talvez o trabalho mais genuíno da dupla, consagrada em montagens sobre a obra de Cole Porter, Stephen Sondheim e Burt Bacharach. Não é à toa que o musical foi ganhador de três prêmios Shell (Direção, Figurino e Iluminação) e cinco prêmios APTR (Texto, Direção, Figurino, Iluminação e Categoria Especial).

Em “7 – O Musical”, Amélia (Alessandra Maestrini, em cativante atuação), submete-se a sete pedidos de uma cartomante, Carmem dos Baralhos (Zezé Motta), no intuito de trazer seu marido de volta, que a traiu com outra mulher. Em busca do sétimo e último pedido, Amélia vai parar no bordel de Dona Odete, interpretada por ninguém menos que Rogéria, que surpreende a plateia antes mesmo de pronunciar suas primeiras palavras (na pre-estreia da última quinta-feira, foi recebida com gritos de “arrasa” e aplaudida várias vezes em cena aberta). Paralelamente a trama, uma velhinha, Senhora A. (Suzana Faini), conta a sua neta Clara (Malu Rodrigues) a fábula de Branca de Neve.

O Rio de Janeiro, envolto numa atmosfera noir e carregada de lirismo e fantasia, serve como pano de fundo para a história. Para contá-la, foi escalado um elenco estelar, que consegue extrair a poesia do enredo e mantê-lo vivo do começo ao fim. Tudo é de encher os olhos em “7 – O Musical”: dos figurinos de Rita Murtinho ao cenário de Rogério Falcão, das interpretações à direção precisa de Charles Möeller, incluindo aí alguns momentos oníricos como uma nevasca em plena Baía de Guanabara. O musical desconstroi a pretensa ingenuidade das histórias para crianças para fazer uma releitura dos clássicos infantis que povoam nosso imaginário. Mas essa releitura só foi possível porque os autores trouxeram à tona o lado mais sombrio dessas histórias, como se elas tivessem relevância também aos ouvidos dos adultos.

É claro que a presença de Rogéria no elenco não merece apenas uma mera citação. Sua importância no desenvolvimento do enredo é vital para que se conseguisse estabelecer um contraponto cômico à dramaticidade das outras cenas. Espirituosa e segura, Rogéria brinca com seu personagem “marginal” (uma cafetina) e imprime um novo significado às convenções cênicas. Quando canta, Rogéria também não faz feio, o que apenas comprova sua versatilidade artística. No palco, não é difícil se surpreender com ela: seja por uma drástica mudança no tom de voz, que leva o público às gargalhadas, ou uma coreografia marcante, Rogéria questiona sua própria condição de travesti para descontruir-se em cena.

Já Zezé Motta e Alessandra Maestrini encantam não apenas por seus papéis, mas também pela entrega e pelo jogo teatral. É por esse motivo que “7 – O Musical” é programa obrigatório, com destaque, claro, para o elenco composto por artistas das mais variadas origens, entre eles vedetes, cantoras, jovens estreantes (um deles é o belo Pedro Sol) e veteranos. Um caldo inusitado, que, com a ajuda de uma equipe de 50 pessoas – incluindo uma orquestra de seis músicos – não deixa nada a dever para os espetáculos pasteurizados da Broadway, que hoje parecem ser a única referência no Brasil quando o assunto é musical.

Para assistir à “7 – O Musical” é preciso relembrar o que se sabe sobre contos de fadas. A relevância do espetáculo está exatamente no poder das mensagens mais simples, ainda que os momentos espetaculares insistam em chamar sua atenção a todo momento.

Serviço:
7 – O Musical
Temporada de 17 de abril a a 6 de junho
Sextas, às 21h30. Sábados, às 21h. Domingos, às 18h.
Local: Teatro Sergio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Tel: 3288-0136
Ingressos a R$ 40 (platéia) e R$ 20 (balcão).
http://www.teatrosergiocardoso.org.br/

* Colaboração para o site A Capa

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