O site A Capa informou ontem sobre violência realizada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo na parada gay de Santo André. Entre as vítimas estavam Dimitri Sales, da Coordenação de Políticas Para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo; e Gustavo Menezes, assessor jurídico da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual do Município de São Paulo.
"Nós vamos preparar uma nota oficial a respeito do ocorrido e faremos uma outra parada, talvez no dia 22/11, pois precisamos resolver esse caso. É uma situação muito complicada onde os PMs não respeitam ninguém", disse Marcelo Gil da ONG ABCDS (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), responsável pela manifestação no município.
Gil também revela que foi ameaçado pelos PMs. "Apontaram arma para mim e disseram que iam me mandar prender", disse. A confusão teve inicio com a não liberação de um trio elétrico. Segundo Marcelo, o carro estava com os documentos em dia, mas mesmo assim, a Polícia Militar não liberou o trio. "Tivemos que ir caminhando ao lado do trio", lamenta o ativista.
Lorena Marciente, que trabalha na Musicall Produções Eventos, empresa responsável pelo Trio Gladiador, disse à reportagem do A Capa que toda a documentação foi apresentada na última semana para a Polícia Militar. “Ao nosso ver tudo isto é uma grande discriminação da PM com a Parada de Santo André. No ano passado houve o mesmo problema com o Trio Astros e Estrelas, todos da Musicall”.
A produtora da empresa disse que os mesmos trios barrados pela PM de Santo André já foram utilizados pela Parada Gay de São Paulo, “onde a vistoria é mais rigorosa que a de Santo André”. Além disso, Lorena revela que o trio Gladiador foi usado na Marcha Para Jesus de São Paulo, realizada na semana passada.
"Nós acreditamos que isso seja vingança porque denunciamos o caso das travestis. Tanto é que em 2008 não saíram os trios elétricos e esse ano o trio do Gladiador, com toda a documentação, também não foi liberado", explica Marcelo Gil. Segundo o organizador nenhum dos trios foi liberado. "Ficamos limitados ao chão. E nós assinamos o TAC (Termo de Conduta)". Os carros só poderiam transitar sem pessoas em cima.
"Durante o trajeto da manifestação houve provações da Polícia Militar", conta Gil. "Houve momentos em que a PM jogava os carros em cima das pessoas, afastavam as pessoas com o cassetete". Marcelo diz que vários gays e lésbicas foram agredidos pela polícia. "Eles [os policiais] pegavam meninas pelo pescoço e arrastavam, parecia que estávamos no militarismo".
O ativista revela que na quinta-feira (12/11) farão uma manifestação na Câmara Municipal de Santo André. "Iremos à tribuna da Câmara para relatar este episódio e faremos um ato para que este tipo de coisa não ocorra mais". Para Marcelo Gil a PM do Estado de São Paulo ainda é muito homofóbica. "Em todos os anos fui humilhado pela PM. Nunca respondi as agressões e o povo fica perguntando por que o gay não vai a delegacia? Aqui em Santo André a PM é muito complicada".
Corpo de delito
Dimitri Sales encaminhou e-mail a redação do A Capa. O coordenador revelou que ele e Gustavo Menezes fizeram exame de corpo de delito no Hospital Militar. Foi instaurado um Inquérito Polícial Militar (IPM) que irá investigar se houve abusos de autoridade por parte da Polícia Militar.
Sales acredita que os fatos "serão devidamente apurados e os policiais envolvidos serão corretamente punidos". Para ele a Polícia Militar "tem feito esforço para enfrentar a homofobia, mesmo dentro das instituições policiais". O coordenador reconheceu que "podem existir policiais homofóbicos", mas diz não poder afirmar "que a postura seja de uma polícia homofóbica".
Ao jornal Folha de São Paulo, o capitão da Polícia Militar, André Luiz, afirma que houve necessidade de intervenção "porque alguns participantes invadiram residências e postos de gasolina e outros se negavam a liberar a avenida no horário". A respeito do spray de pimenta ele disse que a polícia usou "meios moderados".