in

Inquisição gay ou instituições arcaicas?

Vira e mexe as pessoas do bloco religioso dizem que os ativistas e a comunidade gay querem construir uma “ditadura gay”, “uma inquisição cor de rosa”, “que queremos deturpar os valores da família”, “que somos antinaturais”, “que desejamos transformar a TV em cor de rosa”… Enfim, que queremos acabar com a sociedade tal como conhecemos.

Não queremos acabar com a sociedade como conhecemos, mas mudar alguns valores sim. Ditadura gay? Não, mas é indiscutível que vivemos sob uma ditadura religiosa e que os valores das instituições que representam tal ponto de vista não podem ser criticados.

Por exemplo, o prefeito de Duque de Caxias, Zito (PSDB-RJ), ao justificar a proibição da parada gay da cidade disse que "a manifestação é obscena", que deveríamos "fazer a festa/manifestação dentro de clube" e que "as igrejas e a sociedade se incomodam com tal ato". Está aí um exemplo de uma ditadura religiosa, quando usada para justificar a proibição de algum ato público.

Ditadura também é a forma como partes dos LGBT são representados na televisão, principalmente em programas humorísticos, quase sempre de forma caricatural. E, ainda tem gente que acha ruim quando chamam atenção e dizem se tratar de uma piada. Então, vai ter que ser mais criativo. É fácil, como disse o Gabeira no Festival da Política, fazer piada com a “alegoria pronta”.

E as bancadas políticas religiosas? Aquilo é o baú do atraso e pra lá de reacionário. Qualquer projeto que tenha a palavra homossexual não passa, direito ao aborto, não passa… E ainda temos que engolir parlamentares irem a plenário usar o seu mandato para criticar a vida gay. Isso é ditadura e das brabas.

Mas, eis que um coletivo de Madri encontra respostas a altura e que o movimento gay do Brasil deveria usar. O grupo Cogam (Coletivo de Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais) criou um calendário onde os santos católicos são representados por Transexuais. Recebeu o nome de Calendário Laico. À imprensa os organizadores disseram se tratar sim de uma provocação a instituição católica. E perguntaram, “e não é uma provocação eles desacreditarem a homossexualidade?”.

Enfim, não desejamos uma inquisição rosa. Primeiro porque não é toda bicha que gosta da cor em questão.  Segundo, não queremos repetir os erros do passado.

A questão social e política da sexualidade está para o século XXI o que a questão racial significou no século XX. A intenção é de mudança e transformação. Infelizmente as instituições religiosas não entendem, ficam presas em conceitos com mais de dois mil anos de idade – depois falam que são os marxistas que pararam no tempo. Enfim, está mais do que na hora do conceito de Estado Laico sair do papel e virar realidade. Pra começar, políticos com ligação religiosa/institucional deveriam ser proibidos de se candidatarem…

A coisa anda tão ruim, que no ano que vem, ano de eleições, teremos que aturar a babação em torno da candidatura de Marina Silva (PV-AC), a ser apresentada como moderna e ética. Tudo o que não é. Marina representa o que há de mais obscuro, no que diz respeito à ligação entre igreja e política: contra o aborto, contra a descriminalização da maconha, não tem posição clara sobre a questão gay, é a favor do ensino religioso nas escolas e mesmo a sua política para o verde é questionável: não adianta dizer que é a favor do desenvolvimento sustentável se é a favor do modo de produção como conhecemos. E preciso romper com segundo para se concretizar o primeiro.

E não é apenas a candidatura de Marina que apresenta problemas de questão laica. Heloisa Helena, candidata do Psol, também é outra figura que sempre usa os valores cristãos para se vender como renovação. Além de se basear em valores milenares, também é contra o aborto e contra a descriminalização das drogas. Conservadora. Dizem que ela não é candidata a presidência e que tentará voltar ao Senado, tomara. Parece que o Babá será o candidato, pelo menos ele é do Santo Daime.

Tudo pra dizer que: passaram-se séculos e as instituições jurídicas, legislativas e religiosas pouco se modernizaram/ atualizaram, algumas pararam no tempo mesmo. Nesse tempo a questão da sexualidade explodiu. A modernidade acabou e entramos para a era da tecnologia/mídias.  As atrocidades cometidas por países islâmicos chegam a todos os cantos do mundo a partir de blogs e twitter. As duas últimas gerações não se enxergam nas representações institucionais como conhecemos. Como bem cantou Caetano, “alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial…”

Elton John diz que lamenta ter perdido a virgindade aos 23 anos

Londres inaugura primeiro centro turístico gay