O estudante de medicina iraquiano Taim é um dos poucos homossexuais que conseguiram se livrar da morte do grupo extremista Estado Islâmico. Aos 24 anos, ele relatou à repórter da BBC Caroline Hawley como é a vida de um homossexual no país.
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De acordo com Taim, a sociedade iraquiana fica feliz quando um EI lança à morte do topo de prédios a comunidade LGBT, uma vez que pensam que eles são doentes.
No relato, Taim diz que percebeu que é gay desde os 13 anos e que chegou a fazer terapia durante a faculdade para "se sentir normal". O terapeuta o aconselhou a pedir ajuda para amigos, mas eles acabaram o discriminando de várias formas – até porque um deles, Omar, se aliou posteriormente ao EI.
"Em novembro de 2013, Omar me atacou com dois amigos. Estava apenas andando para casa depois de um ótimo dia. Eles me espancaram jogaram-me no chão e rasparam a minha cabeça. Diziam: 'Essa é só uma lição por enquanto, porque seu pai é um homem religioso. Olhe o que você faz! Ele queria dizer que eu só não tinha sido morto ali em respeito ao meu pai, porque venho de uma família religiosa", disse.
A SENTENÇA E A FUGA
No dia 4 de julho, um grupo de soldados do "EI" foi à casa de Taim e disseram: 'Seu filho é um infiel e homossexual e nós viemos trazer a punição de Deus para ele'. Para a surpresa do jovem, o pai acatou as acusações, pediu um dia para averiguar e disse: "Se essas acusações forem verdade, eu vou entrega-lo a eles, e feliz". "Fiquei estático, sem saber o que fazer ou dizer – muito menos me defender".
Foi a mãe do jovem que decidiu fazer de tudo para que ele saísse do Iraque. "No dia seguinte, reservou um voo para a Turquia e conseguiu um visto para mim. Mas teria que passar por Erbil (capital da região curda do Iraque), e eles não nos deixariam entrar no Curdistão. Passei duas semanas num vilarejo. Tentei entrar por Bagdá, mas havia conmbates na estrada e o motorista se recusava a ir. Tentei sair muitas vezes, sem sucesso", relata.
No mês seguinte, a mãe de Taim o levou para Kirkuk dirigindo por campos e estradas de terra. "De lá segui para Sulaymaniyah. Planejava ir para a Turquia, mas o primeiro voo disponível era para Beirute e eu não precisava de visto – e aqui estou. Se tivesse ficado, o EI teria ido atrás de mim e me matado como fizeram com os outros. Se não pegassem, meus próprios parentes teriam feito o serviço".
A VIDA HOJE
Apesar de estar longe de casa, Taim revela que continua recebendo ameaças. Uma delas no Facebook, que dizia: "Você está em Beirute. Vou te perseguir até o inferno". O Projeto de Assistência a Refugiados Iraquianos ajudaram o jovem a obter o status de refugiado. "Aqui vivo em um quarto do tamanho do banheiro da minha antiga casa. Estou num limbo".
Ele diz que perdeu contato com outros amigos gays, para a própria segurança deles, e que só tem conversado com a mãe. "Ela é a mulher mais incrível do mundo. Ela me ama, e nunca discutiu minha homossexualidade quando me ajudava a fugir".
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Taim conta que ficou em choque quando viu que um dos amigos foi morto, jogado do alto do principal prédio do governo e que teme pela vida de outros homossexuais que estão sendo perseguidos. "É devastador ver a reação pública aos assassinatos. Normalmente, quando o EI divulga as imagens, as pessoas só se solidarizam com as vítimas se elas não forem gays. Dizem: 'Odiamos o EI, mas amamos quando eles matam gays', "Isso é o mínimo que os gays merecem', 'Belo trabalho EI'".
Hoje, Taim quer permanecer em um lugar seguro, fora do alcance do próprio pai e de qualquer extremista, e se formar. "Tive sorte em conseguir sair. Salvei minha alma. Mas e os outros? Terão sorte suficiente para sobreviver? E, se sobreviverem, irão se recuperar do trauma da perseguição? É um desastre, e todos eles são alvos".
