Irina Bacci, 37, é conhecida no meio do ativismo político por sua atuação a frente do Coletivo de Feministas Lésbicas (CFL), na área de prevenção a Aids e por dois anos como membro da Executiva do Fórum Paulista LGBT. Também fez bonito na abertura da Conferência Estadual LGBT de São Paulo, em abril do ano passado, onde discursou e foi fortemente aplaudida.
Na segunda-feira (19/01), o Centro de Referência da Diversidade (CRD) anunciou o nome de sua nova coordenação e lá estava Irina Bacci. Tal notícia foi muito bem recebida no meio da militância paulistana. A ativista lésbica diz com muita sinceridade que esperava por tal indicação. "Todas as pessoas ativistas esperam isso", diz ela. Na entrevista a seguir ela fala sobe a futura gestão, planos para prevenção, michês, homofobia e outras coisas mais.
Você esperava ser indicada?
Na verdade acredito que todas as pessoas ativistas esperam isso. De certa forma, o trabalho que realizamos nos movimentos sociais é ponto de partida para políticas públicas.
O que as pessoas podem esperar de sua gestão?
Com certeza as pessoas usuárias do nosso serviço podem esperar muito empenho pessoal para tornar o Centro de Referência da Diversidade um equipamento público indispensável à vida dessas pessoas. Esperamos nos aproximar ainda mais da Assistência Social e, por meio dela, melhorar a qualidade de vida, implantar projetos de cidadania e diminuir a precarização de vida do público-alvo do CRD, minimizando com isso, os efeitos da vulnerabilidade social.
Qual a sua avaliação da atuação do CRD até a sua chegada?
Assumi agora, estamos conhecendo o serviço, a equipe e suas ações. Não é possível ainda exprimir uma opinião ampla sobre o CRD, mas com certeza o CRD é um importante equipamento público para a diversidade. Neste período, desde sua inauguração, realizou mais de 2000 atendimentos para aproximadamente 900 pessoas, encaminhando suas demandas pela rede social de São Paulo e proporcionando possibilidades de geração de renda as usuárias.
De que maneira a sua experiência com o Coletivo de Feministas Lésbicas (CFL) e com o Fórum Paulista LGBT podem ajudar/ somar em seu trabalho no CRD?
A experiência dentro do CFL e outros espaços que atuo na militância, como o Fórum Paulista, o Conselho Municipal, entre outros só irão agregar meu trabalho a frente do CRD, pois são estes espaços que me fizeram conhecer a realidade desta população, suas demandas e necessidades. Neste sentido, irá ajudar a construir todas as nossas ações no CRD.
Em relação a homofobia no município de São Paulo, ainda há muito o que fazer?
Sim, com certeza. Combater a homofobia não é um trabalho somente dos equipamentos públicos, como o CRD, a CADS e o CR de Combate e Prevenção a Homofobia, mas de todos nós, da militância, da gestão pública, dos militantes em direitos humanos e da sociedade. Não é um trabalho fácil e nem pequeno, é um trabalho pesado que requer parceriais, apoio, boa vontade, recursos… e que sem dúvida, irei empenhá-los todos no CRD.
De que maneira o CRD pode ajudar a inserir as travestis e transexuais no mercado de trabalho?
Este é um trabalho que o CRD já faz, seja isoladamente ou em parceria com outros serviços, como SENAC, SENAI e, principalmente, em parceria com a CADS, que por meio de projetos com a Secretaria de Trabalho, potencializou o trabalho com o projeto Operação Trabalho e hoje, elas contam com bolsas.
Você tem longa experiência com trabalhos de prevenção a Aids. Sendo assim, você já pensa em ações que podem ser feitas pelo CRD?
Sim. Este é um dos trabalhos do CRD e que pretendemos potencializar em parceria com o Centro da Prevenção do Grupo Pela Vidda, atendendo as metas dos Planos de Enfrentamento da Epidemia de DST/Aids.
Esta semana foi noticiado o caso do médico Daniel que foi encontrado morto em seu apartamento na Alameda Itu. A polícia desconfia de que o autor do crime seja um michê. Acredita que o CRD deva interceder/atuar em casos desse tipo?
O CRD atua com este público e já faz trabalho com os profissionais do sexo desta região. O CRD atua na perspectiva de minimizar as vulnerabilidades sociais e sabemos que, a longo prazo, nossas intervenções serão capazes de melhorar a qualidade de vida deste público e, com isso, diminuir o número de casos como este.