Em alguns municípios como o Rio de Janeiro (capital), São Luiz do Maranhão e Foz de Iguaçu há leis aprovadas que estabelecem a criação de banheiros específicos para as travestis. E o debate volta agora, mas em Fortaleza. O vereador Carlos Santana acaba de apresentar a câmara de vereadores da mesma cidade um PL que determina a criação de tal banheiro. Em seu argumento alega que é mais um mecanismo para combater a discriminação. Será mesmo?
Ninguém melhor do que elas para nos responder. Brunna Valin de São José do Rio Preto (SP), presidente da Associação Rio Pretense de Travestis e Transexuais (ARTS) e vice-presidente do conselho municipal de saúde da cidade diz ser contra e que a criação de tal banheiro "é mais uma forma de excluir e nós queremos nos incluir". Quem tem opinião similar é Salete Campari, "é um absurdo isso. Lutamos por direitos iguais. Nem mais nem menos".
Fernanda Benvenutty, da Associação Travestis da Paraíba (ASTRAPA), é contundente e afirma que isso é "ridículo, ao invés de incluir, eles querem criar mais guetos, e dessa forma eles nos transformam numa coisa estranha". Ainda sobre a questão da segregação Fernanda continua ao dizer que "daqui a pouco eles vão querer criar um mundo só para as travestis e transexuais e ninguém poderá sair por que será perigoso. Tem tanta coisa importante pra se fazer e eles ficam criando esses projetos".
Bom, que as meninas são contra a criação de banheiros específicos para as travestis, está claro. Mas, e na hora de usar os banheiros públicos, ou em restaurantes e lugares do tipo, em qual elas vão? Há constrangimentos? As pessoas olham feio? Xingam? Chamam a polícia? "eu uso o banheiro feminino há 18 anos. E quando eu usava o masculino eu era assediada", revela Brunna Valin.
"Quando eu estou Salete, eu uso o feminino. Agora quando não estou vestida como Salete, vou ao masculino", é o que nos conta a querida Salete Campari. Fernanda Benvenutty diz que "eu vou a qualquer um, depende da minha necessidade".
No final da conversa as meninas ainda fazem mais ressalvas sobre a questão das travestis e dos banheiros públicos. "Imagina se eles resolvem criar um banheiro desse tipo em rodoviárias, com certeza será um banheiro isolado e nós teremos que pegar uma chave. Constrangimento puro". Indigna-se Bruna. Para Fernanda se trata do "direito de ir e vir. A maioria das meninas que militam comigo lutam pelo uso do banheiro feminino, pois se identificam como mulheres, portanto é um direito delas". Salete reafirma a sua opinião e diz, "isso é preconceito. E, a gente luta por direitos iguais e o cara quer excluir a gente?".