Desde que o assunto eleições começou a tomar conta dos meios de comunicação, as especulações sobre possíveis candidatos, principalmente no segmento de gays, aumentaram ainda mais e um nome era dado como certo: o de Jean Wyllys, vencedor da quinta edição do Big Brother Brasil.
Em entrevista recente ao site A Capa, Jean negou a sua candidatura (mas não a descartava). À época, o candidato revelou que ainda tinha algumas inseguranças e incertezas. Não sabia se estava preparado para o clima de uma campanha e receava a questão do custo e o real alcance de seu trabalho na Câmara, caso fosse eleito.
Da última entrevista até hoje, passaram-se 45 dias, ou seja, um mês e meio. Nesse tempo Jean, aceitou o convite de Heloisa Helena, presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), legenda pela qual Wyllys irá concorrer a deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Na entrevista a seguir, Jean Wyllys fala sobre os desafios de sua candidatura, assume que ainda não superou todas as inseguranças e ainda comenta a atitude da pré-candidata à Presidência da República, Marina Silva, que se negou a empunhar a bandeira do arco-íris oferecida por um vereador gay de seu próprio partido.
Você confirmou a sua candidatura a deputado.
Aceitei o convite da Heloísa Helena. Agora eu sou oficialmente pré-candidato a deputado federal pelo PSOL e pelo Rio de Janeiro.
Qual será a bandeira de sua campanha?
Se eleito, vou legislar em defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais, o que inclui estender a cidadania plena à comunidade LGBT; mas, também, a defesa das liberdades das mulheres e o direito do "povo de santo" de expressar publicamente sua crença sem ser "demonizado". Na verdade, legislar em defesa dos direitos humanos é trabalhar em muitas frentes: buscar garantir saúde, educação e habitação de qualidade para os pobres; ampliar o acesso destes às artes; ampliar a oferta de empregos, principalmente do primeiro emprego; enfim, é tentar fazer justiça social e fortalecer a democracia. É uma bandeira plural, eu sei, mas ela reflete a minha própria pluralidade. É uma bandeira colorida, um arco-íris, porque minhas causas têm muitas cores.
Você comentou sobre algumas inseguranças antes de assumir a candidatura. As superou?
Não sei se as superei, mas, a urgência das causas me fez colocá-las de lado. Os inimigos da democracia, os intolerantes, os mentirosos, os cínicos, os ladrões, os desonestos, os racistas e os que se opõem à diversidade sexual estão todos na arena; logo, eu não poderia nem posso ficar de braços cruzados: eu tinha e tenho de entrar na arena para enfrentá-los e lutar por dias melhores para nós. Não posso me dar o luxo de ter inseguranças quando nosso bem-estar está em jogo.
Está preparado para o desgaste vindouro?
Também não sei se estou preparado para o desgaste vindouro, se é que ele vai vir mesmo, pois esta será minha primeira campanha. Mas, o que posso dizer é que, para quem saiu da extrema pobreza e chegou até aqui contando apenas estudo, trabalho e honestidade, o desgaste que pode vir não chega a ser um problema. Estou ciente de que a chance de eu não ser eleito é igual à que tenho de ser eleito, embora eu vá trabalhar muito para vencer a eleição.
Marina Silva se recusou a erguer a bandeira do arco-íris em evento público do PV. A bandeira foi oferecida por um vereador gay do PV de Alfenas. O que você acha disso?
Acho lamentável já que ela conta com a simpatia de parcela expressiva de homossexuais de classe média e com formação, talvez até mais do que eu. A recusa de Marina reflete bem a dificuldade de políticos em lidar com a causa LGBT, mesmo quando, por motivos eleitoreiros, dizem-se simpatizantes. E mostra que a homossexualidade não faz parte das causas unânimes, como o meio ambiente e o futuro das crianças, mas, sim, das causas polêmicas. A Marina teme perder o voto daqueles que querem preservar a Amazônia, mas são insensíveis aos bárbaros crimes de ódio de que são vítimas os homossexuais.