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Jornalista e Jô Soares derrapam na transfobia ao falar sobre Buck Angel

Depois de respeitar a identidade de gênero de Thammy Miranda – e ser elogiado por isso – Jô Soares derrapou na transfobia no programa apresentado na segunda-feira (27). E gerou revolta na internet.

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Na atração, ele entrevistou o jornalista Fernando Moreira, do blog Page Not Found, que fala sobre notícias bizarras.

O jornalista contou que a estreia da página foi motivada pelo caso de Buck Angel, homem trans que ficou conhecido pelos filmes gays. E foi aí que começou a seção de deboche do entrevistado e entrevistador. Além da reprodução do desconhecimento sobre identidade de gênero e orientação sexual.

Moreira disse que Buck Angel "cansou de ser mulher" por volta dos 20 anos e que decidiu ser rapaz, "se transformando naquilo". E, ao entrar na indústria pornô, também "cansou de gravar com mulher" e quis gravar com homens, "pois queria ser ativo com homens". Ao mostrar a foto de Buck, o jornalista sentenciou: "Aquilo é uma mulher".

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Com risos da plateia e tom de deboche, foi falado que Buck tinha "voz de mulher que toma bomba" e que ele "queria sempre ser ativo com homens". Jô soltou: "Estou com certa dificuldade de digerir isso. Que coisa estranha ver uma coisa de borracha entrando e saindo" e perguntou se o jornalista chegou a ver o pênis de borracha de Buck. "Que loucura".

Foi ainda questionado se Buck tinha "jeito de mulher", e o jornalista disse "sim, que era educado e gentil". Depois, ao falarem sobre a possibilidade de um homem trans gerar uma criança, Jô comentou: "Imagine uma criança crescer na barriga do Buck, fica uma loucura quando nasce". Só esqueceu que há vários casos no mundo e no Brasil de homens trans que geraram os seus filhos e que são pais. 

Ao saber das declarações, Buck Angel compartilhou a matéria do A CAPA e escreveu: "Acho que estavam fazendo graça comigo em um famoso programa de TV ontem. Gostaria de ir ao talk show e ajudar a educar". 

O programa foi duramente criticado pela comunidade de homens trans na internet, que julgaram que a entrevista foi desrespeitosa e que a transexualidade foi levada na piada.

5 CONSIDERAÇÕES DO GRUPO

– É triste ver que pessoas trans – travestis, mulheres transexuais, homens trans e outras transgeneridades – ainda são vistos como assuntos bizarros, sobretudo quando não estão presentes. E que cujo tema é abordado de maneira que provoque risos na plateia e no telespectador.

– Ao contrário do que foi exposto no programa, Buck não "cansou de ser mulher". Ele externou a sua identidade de gênero e adequou o corpo ao que sempre soube: que é um homem, independente de ter nascido com órgão sexual atribuído ao gênero feminino. O respeito pela identidade de gênero da pessoa trans é uma das maiores lutas do grupo.

– O jornalista expõe a foto de antes da transição e o nome antigo de Buck, uma das informações mais desnecessárias e que o grupo sempre pede para não divulgar. A justificativa é evitar constrangimenos. Tanto que, em certo momento, Jô e o jornalista referem-se ao Buck pelo nome feminino.  

– O fato de alguém ser homem não faz da pessoa necessariamente hétero, certo? Então, da mesma maneira que um homem cis pode ser gay, um homem trans também pode. Não existe nada de bizarro nisso se você entender a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual. Qualquer confusão neste sentido é fruto da ignorância e do preconceito. 

– Mas no caso de Buck, ao contrário do que o jornalista expôs, ele se define como bissexual. E, ao contrário do que o jornalista também disse, Buck também faz cenas como passivo – o que não afeta o fato de ele ser homem.

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