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Ladyfest 2007: Entrevista com as organizadoras

Para as meninas rockeiras pode soar mais familiar o nome Ladyfest, famoso festival feminista que chegou à sua quarta edição no Brasil neste ano com três dias de entretenimento e informação. Organizado pelo Portal Quitéria, o evento que acontece no mundo todo foi criado em agosto de 2000 e tem como berço a cidade de Olímpia (EUA), mas é aqui, em terras paulistanas, que bate recorde de participantes – no ano passado chegou a 1.500 pessoas entre shows e oficinas. Foi na versão alemã, em Stuttgart, que Tati Quebra-Barraco também se apresentou em 2004.

Mas a edição deste ano foi especial. A organização foi muito mais além do rock and roll e acolheu todos os tipos de tribos e meninas que se sentiram à vontade para participar. ” Peguei a programação no CCJ. Não conhecia o Ladyfest, vim para conhecer as bandas e gostei de todos os shows” – diz Renata, de 17 anos. Com apresentações de MPB a folk, passando por oficinas de saúde sexual para meninas e pornografia a uma incrível e recheada mostra de vídeos, o LadyFest destrinchou a sexualidade feminina de A a Z com o tema “Tire Sua Própria Virgindade”: Tirou da teoria e colocou na prática assuntos esquecidos e ofuscados pela sociedade, que renderam ótimas conversas e até mesmo algumas discussões.

Um verdadeiro centro de informações, estudo e como não poderia faltar, jogação. ” Já conhecia o Ladyfest mas foi o primeiro ano que eu vim. Esse festival é um referencial para o feminismo independente e é por isso que eu estou aqui.” – diz Janaína, de 20 anos, que veio de Curitiba para prestigiar.

Confira abaixo a entrevista que o Dykerama.com fez com Geisa França (26) e Elisa Gargiulo (27), organizadoras da maior micareta riot mundo, como elas mesmas apelidaram o festival:

Quantas pessoas passaram pelo LadyFest este ano?Estimamos que nos 3 dias de festival, cerca de 1.000 pessoas participaram dos eventos.

Quais foram os principais destaques ?
Para nós foi a mostra de vídeos e os bate-papos, mas o público participa mais dos shows.

Como vocês avaliam esta edição?
Este ano organizamos tudo em 3 meses, sendo que o costume é organizarmos tudo em 6! Então a correria foi muito maior e foi preciso o envolvimento de mais meninas para fazer o Festival acontecer. No final, achamos que a escolha da data não foi boa, mas ficamos contentíssimas em perceber que o Festival tem um público fiel e animado, uma vez que muita gente compareceu aos três dias de atividades.

A mostra foi nossa “menina-dos-olhos”! Ficou incrível, diversificada e forte, gracas a correria de Fernanda Leite e Marianne Crestani, que cuidaram de tudo com muito carinho e muito suor. Os shows foram especialmente incríveis, pois este ano sentimos as bandas muito envolvidas com o Festival. Um dos grandes diferenciais desse ano foi a atenção que a imprensa deu para o festival.

Meios como Revista da Folha, Folhateen (que deu capa!), MTV (cobrindo dois dias), Multishow, Todateen entre outros marcaram presença no evento e registraram acontecimentos que normalmente passam despercebidos pela grande mídia. Se dar atenção a imprensa pode ser algo considerado irreconciliável por conta do teor radical do festival, achamos que por outro lado o feminismo deve chegar ao maior número de meninas brasileiras possível. Sim, o LadyFest Brasil 2007 foi um sucesso!

Podem fazer um balanço das edições dos anos anteriores para esta? Quais foram as principais mudanças?
O primeiro ano foi muito tímido comparado com esta quarta edição. O Quitéria organiza desde a segunda edição, portanto, vamos avaliar a partir desta.
A principal mudança foi a durabilidade, o festival agora tem 3 dias. A segunda grande mudança é a simultaneidade de atividades, que começou ano passado e este ano foi mantida, pois haviam muitas oficinas. A terceira grande mudança foi o fato de só bandas compostas por meninas tocarem.

O público também evoluiu?
Acreditamos que sim. De uma maneira geral, temos a impressão de que o Festival já se afirmou como um final de semana de rock, debates e cultura e que muitas meninas e meninos esperam por ele, produzem para ele e colaboram muito.

Qual a importância do festival para o público, imprensa e principais apoiadores?
É o momento anual de nós mulheres mostrarmos a todos e todas o que estamos produzindo, o que queremos, o que pensamos e o que sentimos, e entre nós, de discutirmos tudo isso e nos fortalecermos.

Vocês conseguiram trazer um olhar diferenciado para a produção artística feminista. Na opinião de vocês, isso ajuda a quebrar preconceitos e fortalecer alianças?
Primeiro, obrigada. No Brasil, colaboramos muito com essa mudança de olhar e isso quebra preconceitos, mas gera muita controvérsia também. Por um lado, mostramos a todos e todas que somos capazes de fazer música, que geramos cultura, que pensamos, sentimos e temos necessidades independentemente de figuras masculinas (seja ela qual for), por outro isso teve uma resposta – digamos intensa – por parte de todas as pessoas demasiadas reacionárias. Todo ano temos alguma polêmica, portanto, não sabemos exatamente se quebra algum padrão ou preconceito, mas cria um ambiente para isso.

Como está a estruturada hoje a cena feminista? O que o LadyFest reproduz, cria e recria do que é produzido nela?
A cena feminista no rock? A cena do rock no Brasil mudou muito. Hoje o que mais se produz é mesmo só música. Vemos poucos fanzines, poucos grupos ou coletivos e quase nenhum debate ou bate-papos específicos rolando por aí. Ao contrário do que aconteceu nos anos 90. Nesse sentido, o LadyFest é o festival que cria ambientes e possibilidades para que haja diálogo e discussão. Nunca deixamos de lado as oficinas e os debates.

Quais são os planos para o ano que vem? Podem nos adiantar alguma coisa?
Primeiro vamos tirar umas férias e botar no ar o nosso querido portal Quitéria. Só podemos adiantar que será no segundo semestre, como este ano.

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