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Ladyfest 2007: Quem disse que mulheres não entendem de computador?

Soquetes e placas de memória, processadores, cooler… Palavras que dificilmente fazem parte do vocabulário do nosso dia-a-dia. Mas para Elisa Ximenez essas palavras são tão vitais quanto beber água, trabalhar, comer. Elisa, formada em Ciências Sociais, se encantou com o mundo da informática e hoje não a encara apenas como um hobby, mas também como uma forma de dar voz à causa feminista.

“Já ouvi milhões de vezes que mulher não entende de computador”, reclama. Durante o último LadyFest, Elisa, sua colega Aline e a baterista do Fantasmina, Kerby Ferris, ensinaram alunas atentas a desvendar os labirintos de um computador. Desmontaram um modelo por completo, explicaram em detalhes sobre todos os seus componentes, viraram de cabeça para baixo, encaixaram e desencaixaram. As artesãs da tecnologia não pararam um minuto sequer.

Para Elisa, a oficina serviu para discutir a questão de gênero, já que é comum ligar a palavra “PC” ao restrito e ainda machista universo dos homens. “Se uma mulher não tem conhecimento do seu próprio corpo, como ela vai ter do que existe dentro do computador?”, questiona. “Pretendemos desmistificar a tecnologia para a mulher e, conversando entre nós, enxergamos que desde pequena somos podadas em diversos aspectos das nossas vidas, desestimuladas a mexer e conhecer nosso próprio corpo, nossa sexualidade e da mesma forma a mexer em equipamentos eletrônicos, como computadores. Somos desestimuladas a mexer por dentro das coisas, como se isso não fosse uma função feminina”, acrescenta.

Além de ensinar sobre a informática em seus vários aspectos, Elisa, Aline e Kerby aproveitaram para dar dicas valiosas para quem só sabe ligar e desligar o computador. Por exemplo, como customizar sua própria máquina ou qual é o melhor processador do mercado.

É claro que não perderam a oportunidade de cutucar a tecnocracia reinante. “Se você não tem formação, você não faz parte da maioria”, acredita. A postura militante de Elisa reflete também no modo pelo qual ela e suas colegas consomem tecnologia. Adeptas do software livre, elas idealizam seus próprios programas e os disponibilizam na plataforma Linux para quem quiser usufruir. “Somos totalmente contra a propriedade intelectual”, diz.

A advogada Bruna Pimentel, de Campinas (SP), participou da oficina para provar que não tem medo de computador. “Vim entender meu próprio limite. Eu apanho bastante do meu computador. Ainda chamo um técnico para mexer nele, mas gostaria muito de fazer isso sozinha”, diz, esperançosa. Depois dessa oficina, talvez Bruna tenha conquistado seu objetivo.

“Servidora”
O preconceito no ramo da informática é tão grande que Elisa e suas companheiras resolverem se defender de forma autêntica. Criaram um servidor totalmente feminino, o chamado Coletivo Birosca, que segue a ideologia defendida pela Free Software Foundation (FSF, Fundação para o Software Livre).

Fundada em 1985 por Richard Stallman, a FSF se dedica à eliminação de restrições sobre a cópia, redistribuição, entendimento e modificação de programas de computadores. Faz isso promovendo o desenvolvimento e o uso de software livre em todas as áreas da computação.

“Nós não temos nenhum vínculo com a Free Software Foundation, mas apoiamos e seguimos os princípios do movimento de Software Livre, utilizamos as licenças GPL – General Public License, trabalhamos apenas com software livre, disponibilizamos e incentivamos as pessoas a copiarem e redistribuírem os materiais elaborados por nós”, explica Elisa.

Segundo Elisa, o Coletivo Birosca é fruto de uma resposta anticapitalista e segue uma política interna bastante flexível. “Nossos princípios estão sendo construídos coletivamente, nos preocupamos em manter este projeto aberto, livre, autônomo de instituições financiadoras, partidos políticos etc e acessível à mulheres interessadas, com vontade de aprender a trabalhar com um sistema livre – no caso Linux – discutir autonomia e questões ligadas à mulher”, esclarece Elisa.

Quer falar com a Elisa e quem sabe se unir a esse projeto? Escreva para elisa@riseup.net.

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