Em 20 de julho de 1989, morria Lauro Corona. A morte do ator entristeceu o público, depois de meses de uma árdua luta de Corona contra problemas de saúde. Embora nunca tenha sido admitido pela família, tudo indica que ele foi vítima do HIV.
Lauro Corona nasceu no Rio de Janeiro em 6 de julho de 1957. Adolescente, na década de 70, ele começou a fazer trabalhos como modelo fotográfico e como ator de teatro. Dono de uma beleza estarrecedora, não demorou para ir parar na televisão, estreando no caso especial da Globo "Ciranda Cirandinha" (77, que não tem relação com a série homônima produzida pela emissora no ano seguinte).
Em 1978, ele estreava em novelas, no sucesso avassalador "Dancin Days", interpretando o garotão rico Beto, que se envolvia com Marisa (Glória Pires) e Vera (Lídia Brondi). Nascia aí a intensa amizade entre Lauro e Glória na vida real.
Com o sucesso de Beto, Lauro tornou-se um novo astro jovem global – quando o cenário era diferente de hoje, com dezenas de jovens aspirantes a "atores" infestando a TV. Seguiram-se as novelas "Os Gigantes" (79/80), "Marina" (80), "Baila Comigo" (81), "Elas por Elas" (82), "Louco Amor" (83) e "Corpo a Corpo" (84/85).
No cinema, infelizmente, Lauro atuou em apenas duas produções: "O Sonho não Acabou" (81), onde contracenava com Lucélia Santos, Miguel Falabella e Chico Diaz; e o clássico new wave "Bete Balanço" (84), fazendo par com Débora Bloch e contracenando com Cazuza.
Também aí nascia uma amizade real entre Corona e Cazuza. O cantor do Barão Vermelho tinha algumas afinidades com o astro global – certa semelhança física, e a paixão pelo rock. O desaparecimento dos dois artistas também teve trágica semelhança: Cazuza chegou a opinar sobre o assunto na imprensa, afirmando que Corona provavelmente sofria de HIV; já que o próprio Cazuza sabia muito bem do que estava falando, e já tinha anunciado publicamente que era soropositivo. Mas Lauro partiu exatamente um ano antes de Cazuza, que morreu em julho de 1990.
E nessa ligação com o rock, Lauro se arriscou como cantor, chegando a gravar três compactos – para os mais novos: os compactos eram disquinhos de vinil, geralmente com duas músicas, que testavam o artista antes de lançá-lo na aventura de gravar um disco inteiro, o chamado LP. O flerte com a música já tinha dado sinais em 78, quando ele gravou um clipe musical para o "Fantástico": a canção "João e Maria", ao lado de Glória Pires.
Na mesma fase de roqueiro, Corona virou apresentador do programa dominical juvenil "Cometa Loucura" (84), ao lado de Carla Camurati. Antes, ele já tinha apresentado o musical "Globo de Ouro", e ainda apresentaria algumas edições do "Vídeo Show".
Além da mini-carreira de cantor pop, Lauro continuou na Globo, onde atuou em participação especial no início da novela "Vereda Tropical" (84/85), e estrelou ainda a minissérie "Memórias de um Gigolô" (86, onde fez seu melhor trabalho em TV). Vieram por fim as novelas de época no horário das 18h: "Direito de Amar" (87) e "Vida Nova" (88/89).
E foi durante "Vida Nova" que começaram a aparecer os sintomas de que o ator estava doente. Afundado entre a perseguição da imprensa, constantes internações e recuperações fugazes, Lauro acabou pedindo sua saída da trama onde era o protagonista, o português Manoel Victor. O personagem deixou a história antes do término. E foi a derradeira atuação do ator.
Muito se falou sobre a vida pessoal do astro global. Lauro nunca apareceu publicamente com nenhum caso amoroso. Nunca surgiu em capas de revistas com pseudo-namoradas, e mantinha sua vida íntima em total discrição. Acabou sendo comparado com o galã da Hollywood dos anos 50, Rock Hudson – mas este terminou revelando que era gay e soropositivo, pouco antes de morrer, em 1985.
Atualmente, o trabalho de Lauro pode ser revisto nos filmes que fez – "O Sonho não Acabou" foi lançado em DVD, e "Bete Balanço" pode ser visto em exibições no Canal Brasil ou rastreado na internet – e até mesmo em algumas novelas: basta mergulhar no mercado paralelo de sites de downloads ou mesmo passear no YouTube. Cenas do ator em "Dancin Days", "Baila Comigo" e "Corpo a Corpo" estão por lá.
Fica aqui nossa homenagem a esse ator que, como raramente vemos hoje em dia, conseguiu reunir talento dramático, sensibilidade, carisma, beleza e provou que estava longe de ser somente um menino bonito.
Confira Lauro Corona e Glória Pires cantando "João e Maria" no "Fantástico" de outubro de 1978, abaixo.