A história do Castro District é um símbolo de resistência e celebração da diversidade
San Francisco, 1965. A famosa revista Life proclamava a cidade como a capital da América gay, e o Castro District se consolidava como o coração pulsante dessa vibrante comunidade. Este icônico bairro não só atraiu alguns dos mais renomados artistas e ativistas queer do século XX, mas também se tornou um ponto de referência na luta pelos direitos LGBTQIA+ nos Estados Unidos.
O Castro, anteriormente conhecido como Eureka Valley, se tornou um refúgio para muitos que, como a famosa bandeira do orgulho que nasceu ali, estavam em busca de um lugar onde pudessem ser verdadeiramente eles mesmos. Durante os tumultuosos anos 60, marcado por protestos contra a Guerra do Vietnã e o surgimento do movimento hippie, jovens de todo o país se dirigiam a San Francisco em busca de liberdade e aceitação.
Roberto Ordeñana, diretor executivo da GLBT Historical Society, destaca que a fama do Castro como um espaço acolhedor para a comunidade LGBTQIA+ cresceu boca a boca. Criada em 1985, em meio à epidemia de AIDS, essa instituição se propôs a preservar a memória e a história da comunidade, acumulando desde zines queer até a bandeira original do orgulho.
Harvey Milk: um ícone imortal
Entre tantas figuras marcantes, Harvey Milk se destaca como o símbolo mais visível do movimento pelos direitos LGBTQIA+ nos EUA. Nascido em Nova York, ele se mudou para San Francisco em 1972 e logo abriu uma loja de câmeras na Castro Street, que se tornaria a artéria principal do bairro. Milk não só se tornou um ativista político fervoroso, como foi o primeiro político abertamente gay a ser eleito para um cargo público no país, quando se tornou membro do Conselho de Supervisores de São Francisco em 1977.
Seu ativismo foi crucial para barrar a Proposição 6, uma legislação que visava demitir professores gays e lésbicas das escolas. Timothy Stewart-Winter, professor de história da Rutgers University-Newark, ressalta que Milk encapsulou as esperanças e sonhos de uma geração de pessoas gays que emergiam após o movimento de liberação gay. Tragicamente, menos de um ano após sua eleição, Milk e o prefeito George Moscone foram assassinados, transformando-o em um mártir da luta LGBTQIA+.
O legado de Milk perdura, com homenagens como o nome de um navio da Marinha dos EUA em sua honra e um terminal no Aeroporto Internacional de São Francisco. No entanto, Ordeñana alerta que, enquanto celebramos Milk, é vital também reconhecer outras vozes importantes, como a de Sally Gearhart, que, apesar de seu papel significativo, frequentemente é esquecida nas narrativas tradicionais.
O espírito do Castro em tempos de mudança
Passaram-se 50 anos desde que Milk começou sua jornada no Castro, e muitos argumentam que o bairro se tornou uma vítima de seu próprio sucesso. O Castro é um símbolo do que significa ser gay, mas também reflete as contradições do capitalismo tardio. A crise de habitação que afeta San Francisco é um reflexo das transformações trazidas pela indústria de tecnologia, que tem pressionado a gentrificação na região.
Estabelecimentos de marcas como Diesel, Apple e Starbucks coexistem com taquerias locais e galerias de arte, enquanto a loja de câmeras de Milk ainda permanece em 575 Castro Street, marcada como um marco histórico da cidade. A GLBT Historical Society, por sua vez, se empenha em manter viva a história gay do Castro, buscando um espaço permanente no bairro para que essa narrativa continue a ser contada.
Ordeñana, que cresceu em São Francisco, expressa um amor profundo pela cidade. “Viajar é maravilhoso, mas aqui é meu lar”, diz ele, enfatizando que a comunidade LGBTQIA+ pertence a todos os lugares, mesmo que o Castro continue a ser um destino para turistas e residentes de todo o mundo. A luta continua, e a história do Castro é um testemunho da resistência e da celebração da diversidade que caracteriza a rica tapeçaria da comunidade LGBTQIA+.
