Algo me parece preocupante na questão do casamento gay. Nós, gays, na imensa maioria, não temos costume de formar casais estáveis, somos mais dados a "casos" sucessivos ou paralelos que duram de alguns dias a alguns anos.
Esse nosso estilo de vida, muito mais livre que o do padrão hétero, deveria ser preservado caso houvesse uma forma de casamento gay. Seria importante que os legisladores, ao elaborar suas propostas, lembrassem de fazer dessa "união" uma opção livre e explícita. Entre nós, a simples convivência, mesmo por anos, não significa que se trata de união estável. Viver juntos ou transar juntos, entre os gays, não implica assumir um compromisso. Em outras palavras, rejeitemos o casamento automático ou obrigatório.
Que a união seja um contrato livremente firmado entre duas pessoas (ou mais de duas) que decidiram formalizar e oficializar seu relacionamento. Se passar disso, o casamento gay não será uma conquista, e sim uma camisa de força. Os juristas que trabalham sobre o assunto, as associações gays têm dado atenção suficiente a esse perigo?
Tive um relacionamento de dezessete anos, ao cabo dos quais nos separamos. Em momento algum nos consideramos casados. Estou agora com o mesmo companheiro há quatro anos. Se se aplicasse a lei dos casais hétero, já pesaria monte de obrigações mútuas por cima de nós. Seria um pesadelo.
Se o casamento gay tiver as feições do casamento hétero, acabará essa tradição tão comum entre os gays de namorados de condição social bem diferentes: o perigo de namoros por interesse infernizaria os gays como já envenena os amores hétero.
Resumindo: o casamento gay tem de garantir duas características culturais fundamentais dos gays: a volubilidade amorosa e a mixidade social. O que está sendo feito para isso? Como podemos agir nesse sentido?