Outro dia comecei a refletir sobre o que significa ser lésbica na minha vida. Percebi que essa identificação vem antes de todas as outras. Algumas vezes fiz terapia e a primeira coisa que eu falava era: “Oi, meu nome é Kátia e eu sou lésbica”. Como se eu precisasse deixar muito claro isso, como se esse fosse o motivo de eu estar ali. Percebo hoje o quanto carrego esse peso do rótulo.
Sou lésbica, mas não preciso me ofender se um homem olha para mim com um certo interesse, não preciso agredi-lo por isso. Um simples “não” basta! Sou lésbica, mas sou jornalista, gosto de artes, de cinema, adoro dançar, ler, conversar com as pessoas. Às vezes esqueço que na minha testa não está escrito minha orientação sexual. Antes de tudo, sou uma mulher.
O engraçado é que muitas meninas falam, depois de me conhecer, que nunca conversaram comigo porque “eu não pareço lésbica”. Tem que ter aparência? Nós não somos “normais”, é isso? Outro dia, num bar, me chamaram de “patricinha” de uma forma ofensiva. Tá, prefiro fashion, tem mais glamour e mais a ver comigo, mas sou proibida de me vestir como gosto?
Faço questão de não ter preconceito com relação a roupa, estereótipo, preferência na hora do sexo. Mas faço seleção sim. Gosto de me relacionar, seja como amiga ou namorada, com mulheres com bom papo, inteligentes, de coração aberto, sinceras, de bem com a vida, que gostem de algumas coisas que eu goste. Não é isso que qualquer pessoa, independente da orientação sexual, quer?
Descobri que quero parar de me rotular e simplesmente viver o que eu sou. Se as pessoas me colocam uma classificação pela minha sexualidade, “ema, ema, ema”. Eu sou mais que isso. Nós somos mais complexos do que uma palavra ou frase. Nós somos seres humanos, e isso implica em tantas coisas, eu diria quase incontáveis que, ser “lésbica”, é apenas mais uma delas.
* Kátia Bespalhok é jornalista e colaboradora do Dykerama.com