Quando não assume o papel de Letícia Ferrari ela é Leandro Souza, tem 25 anos e trabalha como cabeleireiro. Emagreceu mais ou menos 5 quilos nos últimos 9 meses – hoje está com 72kg e tem 1,75m de altura – desde que ganhou no concurso Miss Itaim a vaga de Miss São Paulo para participar do Beleza Gay. Ontem, levou o título da competição que aconteceu no clube Piratininga e agora disputará em 15 de agosto como Miss Distrito Federal o título de Miss Brasil Gay 2009 em Juiz de Fora.
O esforço parece ter valido a pena. Depois de investir entre R$ 15 e 20 mil no sonho de ser miss, Letícia venceu 14 concorrentes que disputaram a atenção de um juri eclético formado por pessoas como Sheila Mello, Francisco Bras – o Rei dos Cabelos -, Douglas Drumond – da 269 e do Casarão Brasil -, de Camila Prinss, Dimitri Sales e Franco Reinaudo – da Cads estadual e municipal, respectivamente – e Walkíria Ribeiro.
Vaias e vitória
A vitória de Letícia surpreendeu. Melissa Ambrósio, representante de São Bernardo do Campo, era sem dúvida a concorrente com a maior torcida entre as transformistas que disputaram o título de beleza. Quando recebeu o título de terceiro lugar o público protestou. "Máfia, máfia", gritavam.
Luiz Carlos, que organiza o evento desde o começo há 16 anos, quando se chamava Miss World e acontecia ainda na Blue Space, interveio. "Faço esse concurso há anos e saio daqui hoje com dívidas para pagar porque a bilheteria não foi suficiente. Nenhuma candidata nunca me pagou nada, pois aqui isso não é preciso. As notas dos jurados estão disponíveis e serão divulgadas depois na página do Orkut", falou.
Silvetty Montilla, que abriu a apresentação do concurso e depois voltou ao palco para entregar os prêmios ao lado de Gretta Star e Nildo, fazia piadas para acalmar os ânimos. "Gente, concurso é sim mesmo. Muitas vezes não gostamos do resultado, mas temos que respeitar as escolhas dos jurados. Eu mesmo já participei sozinha de uma disputa e não ganhei", ironizava a drag.
Os ânimos se acalmaram depois que Walkiria Ribeiro falou em nome dos jurados. "Quando analisamos as concorrentes não olhamos uma só coisa. Um vestido bonito não vence concurso. Nem só a beleza. Olhamos para o conjunto, para a elegância. Às vezes uma ou outra candidatas podiam ser mais bonitas, mas lhe faltava o brilho. Hoje talvez não fosse seu dia", declarou.
Tapa buracos
A organização do concurso foi rápida em resolver de última hora alguns impasses que surgiram nos bastidores. O evento teve início à meia noite, quando Silvetty entrou no palco para convidar as candidatas a desfilar no palco, trajando um vestido único.
Após a primeira apresentação as transformistas voltavam aos camarins onde tinham entre 10 e 15 minutos para se trocar. A correria era imensa, mas muitas foram mais rápidas do que o tempo permitido. Um atraso na roupa de Carla Hellen fez os apresentadores segurarem um pouco as pontas no palco e deu certa vantagem para as meninas trocarem de vestidos.
Pelo script, depois da primeira apresentação das misses, aconteceriam alguns shows de drags e depois viriam os desfiles dos trajes de gala. Gretta Star então vai ao camarim, pergunta às misses se estão prontas e pede que Carla Hellen fique "sossegada". Neste momento a performer tem o auxílio de Ribas Azevedo e Duda Mercadoria para vestir sua fantasia inspirada no festival de Parintins. Quando no palco Nildo a chama de novo ela suspira no camarim: "não estou pronta ainda".
O desfile dos trajes é animado. Há espaço para manifestações da plateia e momentos cômicos. O apresentador comenta o vestido de Talita Oliveira, representante de Santo André. "O vestido (roxo) é inspirado nos jardins londrinos", diz. Das mesas se ouve uma enorme gargalhada como resposta, vinda de uma conhecida drag.
Depois das apresentações, Carla Hellen, Aysha Ganzaroli e Marcinha fazem seus shows para que, então, as misses voltem ao palco e sejam anunciadas as finalistas e vencedoras. Por volta das 02h15 o concurso acaba. Uma parte dos presentes vai embora, muita gente sobe no palco para bater fotografias com a mais nova celebridade gay.
