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LGBT reagem contra pressão “religiosa” em votação no PME na Câmara de SP

"Eles vão levar uma santa para dentro da Câmara. É isso mesmo que vai ocorrer em um estado laico? Isso é aqui é uma Câmara de Vereadores, não é uma igreja", diz a ativista transexual Renata Peron na tarde desta terça-feira (11), em frente da Câmara dos Vereados, na região Central de São Paulo.

Lá, ocorreu a votação do Plano Municipal de Educação (PME), que pretende discutir "gênero" e ações de combate ao preconceito movido por questões de gênero (como a homofobia, machismo, transfobia…) nas escolas nos próximos 10 anos. 

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Renata se referia ao grande número de religiosos do Movimento Cristão, que aguardava com cartazes e caixas de som para pressionar que a discussão não ocorra. Para eles, falar sobre as questões de gênero (e consequentemente sobre as pessoas trans e o machismo) é promover a "ideologia de gênero" e ir contra aos "valores da família tradicional". Eles rezaram o Pai Nosso durante vários momentos. 

A comunidade LGBT, feministas e outros movimentos também estavam em peso desde as 10h da manhã. Dentre eles, Laerte Coutinho, Myriam Queiroz, Leo Moreira Sá, Bill Santos, Marcia Rocha, Luís Arruda, Anne Clemente, Luiza Coppieters dentre outros. Faixas como "Respeito se Aprende na Escola, preciso de gênero no PME", "Não adianta a escola formar médicos, engenheiros e advogados, se eles vão colocar fogo em índio, bater em gays, e vão continuar agredindo as suas mulheres" foram levantadas.

Para quem não sabe, o plano com a discussão de gênero e orientação sexual é construído há sete anos – com seminários, debates e audiências públicas. O processo culminou na Conferência de Educação da Cidade de São Paulo, em junho de 2010, quando foram definidas e aprovadas as bases para o plano. Porém, durante o processo de votação na Comissão de Finanças, grupos religiosos pressionaram para a exclusão dos termos do plano.

Ambos os grupos entraram na Câmara – 80 de cada – e se dividiram nas cadeiras. Vaias e aplausos de vereadores a favor e contra à discussão foram constantes. Os militantes defendiam a discussão da igualdade de gênero no PME e ações com a finalidade de acabar com o machismo, a homofobia e a transfobia nestes espaços e, consequentemente, na sociedade. Já os religiosos querem que tudo permaneça como está, sem se atentar ao sofrimento da comunidade LGBT e de mulheres.

O projeto prevê uma série de metas para a educação do município para a inclusão da discussão da igualdade de gênero e o combate ao preconceito. Mas o trecho foi retirado da discussão nas últimas reuniões, com a aprovação de religiosos fundamentalistas e LGBT.

DISCURSO CONTRA E A FAVOR

O coordenador da Missão Belém, padre João Pedro Carraro usou a expressão "ideologia de gênero" para combater a discussão. "Essa palavra define uma projeção cultural, na base da qual cada pessoa pode se sentir de uma determinada forma. Que não pode se chamar homem ou mulher, porque para eles esses são termos ultrapassados. Então, às 8h ele pode achar que estar como homem é bom. Às 10h, estar como mulher é bom. Ao meio-dia estar com um animal também é bom", disse o padre.

Marta Domingues, secretária de Políticas para as Mulheres do PT de São Paulo, questionou o discurso do padre. "Educação de gênero é para levar à compreensão de que os homens e as mulheres são formados também pela sociedade. E pela educação. O que vivemos é um processo de formação que ainda termina em homens violentos e mulheres submissas. Homens preparados para a vida pública e mulheres para as tarefas do lar". Ela defende que o objetivo é "garantir de que todos os alunos, sem exceção, poderão estar na escola e ser respeitados. E também que os professores recebam formação e materiais para orientar essa discussão na sala de aula. Hoje a maior parte dos professores não sabe a diferença entre orientação sexual e identidade de gênero".

 

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