E então estreia o filme que todo amante de cachorros deve ver: “Marley & eu”, baseado no livro homônimo de John Grogan. Aos desavisados, trata-se somente de uma tocante crônica dos efeitos da presença de um cachorro doidinho no dia a dia de uma família. No entanto, os mais atentos perceberão que trata-se de algo muito maior do que só esta sinopse mastigada utilizada para divulgar o filme.
Não sei se o assunto toca mais profundo em mim, por ser um dono de um também labrador amalucado, porém preto (o Lino), e por ter me emocionado antes de mais nada pelo livro, muito bem narrado com palavras precisas para descrever o que é amar um animal e o impacto que o convívio com eles tem na vida de um ser humano atento à presença deles.
Para os que já leram o livro, esperem uma adaptação bastante fiel do conteúdo, embora algumas peripécias tenham sido excluídas ou condensadas para obedecer ao novo formato. Mas os sentimentos, a graça e a delicadeza estão todos lá, latindo a plenos pulmões com os vinte e dois cachorrinhos que foram utilizados para retratarem as diferentes fases de crescimento de Marley.
Ainda para quem leu: esperem as mesmas lágrimas derramadas ao final da história. Eu mesmo me debulhei, por ter passado por semelhante fim com meu amado pastor: Max.
O que mais me chocou nas duas vezes em que vi o filme nos cinemas (tudo para enviar uma boa resenha para meus colegas de dyke), foi a quantidade de pessoas emocionadas com o filme, em grande parte com a linda narração final. Eu já vivi aquilo, era óbvio que me emocionaria em completo descontrole quando o final chegasse. Mas será que todas as outras pessoas naquela sala de cinema já passaram por aquilo? Tenho razões para acreditar que não…
O grande negócio do filme é que, apesar de se tratar de uma história que todos já conhecem sobre um cachorro levado, ele é uma obra extremamente humana. Ela fala de sentimentos verdadeiros, da maneira como aquele casal evoluiu, dos três filhos que foram chegando depois, das mudanças de cidades, empregos, verdadeiras mudanças de vida. E de como em cada um destes momentos, estava presente a sexta pessoa da família, sem a qual tudo seria bem menos singelo e divertido.
Vale observar a maneira como o casal principal, John e Jenny, é apresentado também. É comovente ver a maneira leve com que levam a vida e enfrentam seus desafios. E o mais importante é perceber como conseguem perdoar com facilidade – esta uma grande dificuldade da nossa sociedade atual, aquele cãozinho safado que destrói grande parte do patrimônio deles (esta uma lição aparte sobre VALORES REAIS), enquanto que eles conseguem deixar isso de lado e só amar aquele terrorzinho do jeito que ele é.
Há muito tempo não vejo uma comédia com conteúdo, sem forçar todas as barras possíveis e ainda conseguir ser leve, mesmo com o final que todos sabem que tem (atentem ao final para a cena do colar! Lindo demais!). Acho que só quem tem cachorro vai entender esta coluna, embora espere que eu esteja enganado quanto a isso. O que me leva a pensar isso é que amantes de cachorros sabem que o final chega cedo demais. E nem isso nos impede de querer ver o começo, o meio e o amor sem fim.