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Literatura apimentada

“Servir ao prazer dos que querem ter o gozo da leitura.” Foi com esta frase que o poeta fetichista Glauco Mattoso definiu a experiência de organizar a primeira Antologia Sadomasoquista da Literatura Brasileira, uma publicação da Dix Editorial / Editora Annablume, a convite do professor Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, da USP.

A idéia surgiu numa conversa por e-mail e, menos de um ano depois, a antologia era concretizada com uma seleção de textos clássicos e contemporâneos de 44 escritores, entre contistas e poetas, de Machado de Assis a João Silvério Trevisan e Marcelo Mirisola, para o deleite tanto dos praticantes do sadomasoquismo (SM) quanto dos interessados na ficção e na poesia desta temática.

De acordo com Antonio Vicente, a antologia mostra como o SM aparece disperso em Machado de Assis, José de Alencar, João do Rio, Cruz e Sousa e Monteiro Lobato. “Ninguém está afirmando que esses escritores são SMs, mas o tema aparece entre seus escritos. “Negrinha”, de Monteiro Lobato – que não entrou na Antologia devido a questões de direitos autorais -, é uma narrativa de estrema crueldade, em que uma senhora tortura impiedosamente uma criança negra até a morte. O Fortunato, personagem de Machado, sem dúvida, é um sádico monstruoso – o homem constrói uma pequena casa de saúde apenas para ver o sofrimento alheio. Já a Emília, de Alencar, é uma masoquista fascinante”, explica ele.

Glauco, que escreveu um conto inédito para o livro, afirma que o resultado só não foi mais completo porque muitos autores novecentistas, mortos e vivos, têm seus direitos editoriais presos na mão de terceiros. “Mesmo assim, achamos um bom material, suficiente para uma amostra saborosa, o que sugere, para breve, um segundo volume”, antecipa.

Para explorar ainda melhor o universo de dominadores e dominados, pouco abordado no Brasil, foram escolhidos textos de diversos escritores da literatura brasileira contemporânea, como o conto “Vênus de Cetim”, de Wilma Azevedo – com a ajuda da Eva Batlichova, além de materiais de Mario Bortolotto e Marcelino Freire, entre outros. Com tamanha diversidade, até os mais pudicos sentirão o desejo de, pelo menos, dar uma espiadinha na antologia.

Para Antonio, a idéia é despertar nos leitores, antes de tudo, o humor, depois, o interesse em ler José de Alencar e Machado de Assis com outros pontos de vista, além de publicar novos nomes da literatura brasileira. “Mostrar o sadomasoquismo por trás da máscara de couro? Nada tão trágico”, diz ele. “Um livro, porém, é sempre uma mensagem numa garrafa, pronta para te dar idéias”, instiga.

Já o poeta fetichista Glauco afirma que, por ser masoca e homossexual, quer estimular a crueldade do leitor. “Quero que ele se divirta sabendo que tive trabalho para servi-lo… (risos) Já o Vicente, que é heterossexual e sádico, acho que está se divertindo com o sofrimento das leitoras que sonham passar pelos castigos narrados no livro e que se debatem na agonia do desejo… (mais risos)”.

Antologia Sadomasoquista da Literatura Brasileira
Dix Editorial / Editora Annablume
Organizadores: Antonio Vicente Seraphim Pietroforte e Glauco Mattoso
Quanto: R$ 30,00

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