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Livro antigo, nova página

Esta semana me peguei pensando sobre as etapas da vida e como tudo o que fazemos no passado parece mais distante, depois de já ter sido resolvido. Tudo isso porque eu tentava bolar em minha cabeça a nova trajetória de Fábio, personagem principal e narrador de “Cicatrizes e Tatuagens”, meu primeiro romance para o qual estou bolando uma seqüência.

Se a vida é mesmo um jogo, logo imaginei que a melhor metáfora para ela seria o vôlei, um esporte disputado em até cinco sets em que o vencedor precisa vencer três para ser declarado vitorioso. O primeiro set seria o desenvolvimento de uma pessoa até que ela seja declarada adulta e é neste compartimento que meu personagem principal se encontrava durante a sua narrativa da história já publicada. Considerando que na fase até os vinte e poucos anos, nós criamos muitas certezas e quase todas, senão todas, vão por terra, eu acredito que todos perdemos este primeiro momento do duelo e o placar é o seguinte: VIDA 1 X 0 NÓS.

Não vejam isto como algo pessimista da minha parte, acho que são nas grandes perdas que passamos a aprender como agir, viver, ser e produzir melhor.

Considerando que é aí que descobrimos que muitos dos nossos sonhos eram vãos e tantos outros jamais se realizariam, acho que este é o período que os esportistas gostam de dizer: “aprenderemos com nossos erros, para voltarmos melhor na próxima parcial”.

O segundo set é o período em que o ser humano se estabelece para si mesmo. E aí, não há como nos vencer. Mesmo que haja fracassos pessoais neste período e planos que não dão certo, nós pelo menos sabemos onde estamos pisando e onde queremos chegar. Nesta fase o ser humano começa a ser, ao invés de pensar em quem quer ser no futuro. Ainda há tropeços. Porém, os objetivos ficam mais claros e as aspirações muito menos fantasiosas. Placar empatado em 1 x 1.

Eu estou nesta fase e provavelmente gostaria que meu personagem principal também estivesse, porque acho este momento fascinante, assim como acho importante que se fale dele. Ele não pode ser somente regido pelas cobranças externas de estabelecimento pessoal e começo de uma caminhada coorporativa que um dia o levará à presidência de uma “coorporation” qualquer.

Esta fase que parece ter batido na minha testa de repente, me mostrou que há mais do que isso. E também que é possível querer bem menos do que isso. E eu só descobri esta simplicidade escondida nas coisas semana passada pensando no que sou e onde quero chegar agora que sei o que sou. Há um ano, eu queria vender tantos livros quanto Paulo Coelho.

Reconhecimento. Aplauso. Hoje percebi que quero mais é que as coisas que escrevo causem emoção (qualquer uma) nas pessoas, para que eu possa perceber que há realmente relevância no que digo. Eu só preciso deste pouco, que já é tanto.

Acho que só esta maturidade repentina, que me pegou tão de surpresa quanto uma chuva de verão quando estamos sem guarda-chuvas, me fez perceber que revisitar uma obra não é necessariamente ficar preso à ela (motivo este pelo qual eu resistia a criar uma continuação). É como acreditar que sou somente uma sexualidade e um gênero. Talvez seja hora de perceber que somos mais do que somos e precisamos de menos do que queremos, ou poderemos perder a próxima parcial.

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Cypriano e Chan-ta-lan