Acaba de chegar ao Brasil, pelas mãos da editora Autêntica, a obra "Homofobia – História e crítica de um preconceito", de autoria de Daniel Borrillo, estudo fundamental para quem pretende aprofundar o entendimento a cerca do que é a homofobia e por onde ela perpassa.
Originalmente lançado na França em 2000, a obra de Borrillo se tornou singular por ser uma das primeiras a apontar que o preconceito homofóbico não está restrito a questão da sexualidade. Claro que este é o seu ponto e está ligado a relação entre pessoas do mesmo sexo, mas a sua raiz de fato tem ligação problemática com o machismo e com o racismo. Na verdade, se trata do mesmo lado de uma moeda.
Logo na introdução da obra, o pesquisador nos atenta para o fato de que a homofobia, assim como o racismo ou o anti-semitismo, "são uma manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal; por sua diferença irredutível, ele é posicionado a distância, fora do universo comum dos humanos".
Entre as várias definições que Daniel encontra para definir o termo homofobia, chama atenção a qual ele designa a homofobia em dois aspectos: a homofobia na dimensão social, "que se manifesta pela rejeição dos homossexuais e a dimensão cultural, em que o objeto da rejeição não é o homossexual enquanto individuo, mas a homossexualidade como fenômeno psicológico e social". Ou seja, a vida gay é repudiada pela sociedade heterossexual.
Outro dado interessante a respeito do preconceito contra homossexuais é que, assim com já havia apontado Michel Foucault em sua obra fundamental "A história das sexualidades vol. 1", a homofobia existe para regular e manter a supremacia da ideologia masculinista e heterossexual. "Nas sociedades marcadas pela dominação masculina, a homofobia organiza uma espécie de vigilância do gênero… A virilidade deve se estruturar em dois aspectos: negação do feminino e rejeição da homossexualidade", afirma Daniel.
Na parte em que o autor discorre a respeito da homofobia discursiva e entra nas veredas da política, ele provoca ao colocar a questão da "homofobia liberal". E o que seria ela? Segundo Daniel, dentro do sistema capitalista/ liberal as ditas políticas da diversidade sexual são, na verdade, uma farsa para manter o status heterossexual. E, diz o autor, que apesar da aparente aceitação, o afeto em público dos homossexuais soa como afronta ou uma atitude militante.
Apesar dos dez anos de atraso da publicação da obra, esta leitura é obrigatória e necessária. "Homofobia – história e crítica de um preconceito" figura ao lado das mais importantes publicações em relação a questão da homofobia e das sexualidades. Seu grau de importância está ao lado de obras fundamentais como, por exemplo, "O segundo sexo", de Simone de Beauvoir, "Problemas do gênero", de Judith Butler e a já citada obra de Michel Foucault.
Todos estes, ao lado de Daniel Borrillo, debruçaram-se em cima de estudos a fim de desmistificar a questão da heterossexualidade com fator natural dos sujeitos. Na verdade, é impossível caminhar por essas obras e continuar a ter o mesmo ponto de vista a respeito das sexualidades e de nossa posição enquanto sujeitos sexuados na sociedade. Constatamos que somos manipulados por um discurso de poder que ousa afirmar que as sexualidades não reprodutivas são inferiores e antinaturais.
Por fim, Daniel Borrillo encerra a sua obra com a seguinte provocação: Seriam então os padres celibatários contra a sociedade? Antinaturais? E aqueles sujeitos heterossexuais que optam por não ter filhos ou por vivenciarem relações poligâmicas, estão contra a procriação? E por que estes nunca são questionados por seus pares? Esta teoria, diz Borrillo, se mostra tão absurda quanto afirmar que os homossexuais são uma ameaça à espécie.
Serviço:
"Homofobia – História e crítica de um preconceito"
Autor: Daniel Borrillo
Editora: Autêntica
Preço: R$ 30