Se tivessem me falado antes que ele trabalhou em diversas redações de jornais e revistas ao longo de sua vida, que ele era escritor e gay, eu já teria lido Caio Fernando Abreu.
A primeira vez que ouvi falar dele foi em algum texto aleatório na internet em que um rapaz heterossexual dizia que estava lendo o livro Morangos Mofados, do Caio F. quando foi abordado por algum amigo tirando sarro perguntando se ele era gay. O rapaz respondeu dizendo que não é porque um escritor é gay ou sua obra tem esta temática que um hétero não pode ler seu livro.
Então de novo. Jornalista, escritor, gay e até héteros lêem seus livros. Marquei pra ler Caio Fernando. Mas felizmente deu tempo de o fazer antes da moda. Sim porque este ano Caio F deve virar moda, pelo menos aos chegados em cinema nacional e literatura. É que vai estrear o filme “Onde andará Dulce Veiga?” baseado na obra do escritor. O longa inclusive já foi exibido na Mostra de São Paulo e no Festival do Rio do ano passado.
A obra dele é vasta. A maioria de seus livros publicados é de contos uma vez que seu trabalho como jornalista tomava muito do seu tempo e com isso Caio não conseguiu se dedicar ao desenvolvimento de romances. Tanto que Onde Andará só foi escrito quando ele pediu demissão e começou a trabalhar apenas como freelancer.
Aliás, uma coisa bem interessante é que Caio F integrou a primeira equipe da iniciante revista Veja em 1968. Sem falar que em 1994 ele tornou publico que tinha HIV por meio de três crônicas escritas no Estado de São Paulo.
Para ele suas crônicas estavam a margem da literatura brasileira e ele foi considerado por muitos com um escritor “pesado”, ou “baixo-astral. Do seu ponto de vista Caio era apenas realista.
Se você ficou curioso para conhecer um pouco da obra desse escritor sugiro o livro da coleção Melhores Contos da Editora Global. Tem contos dos trabalhos mais relevantes de Caio e um pouco da sua biografia também.
Entre os destaques da seleção de Marcelo Secron Bessa estão Sargento Garcia, Terça-feira gorda, Uma história de borboletas, Morangos Mofados, Os sapatinhos vermelhos, Aqueles dois, Dama da noite e Mel & girassóis.
Por fim, deixá-los-ei com uma palinha da obra de Caio. Começando com um trecho do conto Terça-feira gorda.
“Ele encostou o tronco suado no meu. Tínhamos pêlos, os dois. Os pêlos molhados se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O quê, perguntei. Você é gostoso, ele disse. Não parecia bicha nem nada: só um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso de homem também.“
Seguindo com o link para o curta Sargento Garcia, em cartaz no porta-curtas. Há também alguns vídeos no You Tube inspirados em alguns contos de Caio. Vocês podem conferi-los clicando aqui e aqui.
