Olhares de Claudia Wonder – crônicas e outras histórias reúne artigos, crônicas e matérias escritas pela diva underground ao longo dos cinco anos em que foi colunista da revista G Magazine. São textos antológicos como a histórica reportagem sobre os T-lovers, os homens que amam as trans, e uma clássica coluna em que Claudia conta um episódio em que foi cortejada por um policial da cavalaria em pleno centro de São Paulo.
O livro traz também entrevistas, como a que Claudia fez com Rogéria. Um dos capítulos é dedicado a conversa entre Claudia e a militante trans Maytê Schneider. Em um dado momento, perguntada sobre a militância LGBT, Maytê diz que Claudia é uma anarquista maravilhosa, por sempre questionar tudo.
É verdade, Claudia é anárquica na melhor das concepções do termo. Afinal, não é qualquer pessoa que, convidada para discutir o segmento trans em uma reunião de candidatura, chega e fala que "saber o que precisa ser feito para as travestis, todos já sabem. Não adianta ficar discutindo. Agora é a hora de fazer". Um digno tapa na cara com luva de pelica, coisa que só quem é muito elegante como Claudia, pode fazer.
Ela ainda pode ser crítica e chamar a atenção do próprio movimento trans, quando diz em uma das colunas, que a educação é tão ou mais importante quanto alterar o nome de registro nos documentos.
Os escritos impressos em ‘Olhares’ mostram uma parte da personalidade de Claudia. Personalidade esta que é múltipla e rica, porque ela, como poucas, sabe e ensina a conviver com a diversidade. Não é a toa que com seu jeito, Claudia cativou a amizade de pessoas como Cazuza e Caio Fernando Abreu.
Por falar em amizade, o livro traz uma grata surpresa ao resgatar a crônica de Caio F. para o jornal O Estado de S. Paulo, intitulado "Meu amigo Claudia". O emocionante texto está na integra nas páginas de Olhares. Uma homenagem de Caio para Claudia e uma homenagem dela para ele.
O livro só tem uma coisa chata. Acaba rápido demais. É uma obra de leitura ágil e a sensação que dá é que ficou faltando ainda muita coisa para ser dita. Tanto que, um segundo livro de Claudia, não seria má idéia.