Sinto que não deveria assistir a um filme antes de ler o livro que deu origem a ele, mas já fiz isso tantas vezes, que já não faz tanta diferença adotar uma postura ortodoxa justo agora. Mas a questão é: só depois de terminar de ler O Beijo da Mulher Aranha eu entendi (ou pelo menos acredito ter entendido) o porque do filme se passar no Brasil: ele critica a Ditadura Militar e outros regimes autoritários, como o nazismo.
Apesar de o escritor Manuel Puig ser argentino e a história no livro se passar num presídio em Buenos Aires, é bem legal ver atores e atrizes brasileiros no mesmo filme que o Raul Julia em locações como a rua Amaral Gurgel e o Metrô Bresser-Mooca (à época a estação era só Bresser), em São Paulo.
No livro, um preso político divide a cela com um homossexual, preso por “corrupção de menor”. Ambos constroem uma profunda relação de cumplicidade e um é completamente oposto do outro: enquanto Valentín, o preso político, é realista e reservado, Molina, o homossexual, é mais sonhador e sentimental.
Essas personalidades opostas geram alguns conflitos de vez em quando, mas é isso que dá o tom exato da narrativa. Valentin, com seu ideal de acabar com a luta de classes e a exploração do homem pelo homem, contrasta com Molina, que pretende arrumar um marido e conta para Valentín filmes que já assistiu.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção no livro foi o fato de todos os acontecimentos serem construídos em cima dos diálogos dos personagens. Você não lê, por exemplo, “amanheceu o dia”, você encontra uma conversa: “- Já acordou? -Já!”.
Está aí. Os diálogos. Puig tinha todo um fascínio por cinema, já até trabalhou como assistente de direção. Por isso a linguagem do filme e do livro se completam tanto! Seria este um livro cinematográfico, ou o filme é que seria literário?
Respondendo a pergunta do título, os dois são bons, gostei igual. E você assistiu? Leu? Conta o que achou aí embaixo!