Nesta semana, acompanhamos as notícias em torno do fim do casamento de Christina Aguilera. O que chamou a atenção da mídia e dos fãs foi o motivo de que a cantora, com o consentimento do ex-marido, se encontrava com garotas em sua casa. Agora os tabloides trabalham com a hipótese de que ela está se relacionando com a DJ Samantha Ronson, ex de Lindsay Lohan.
Christina ainda não fez qualquer tipo de pronunciamento a respeito dos boatos. O que se tem até o momento é a declaração de um segurança que revelou armar encontros com garotas para a popstar. Mas o caso Aguilera serve para nos atentarmos a um sintoma recente da indústria musical: a perseguição e o cerceamento à vida particular das novas cantoras. Exemplos não faltam.
Além da polêmica envolvendo Christina, uma nova surgiu em torno de Miley Cyrus, de 17 anos. Pais dos fãs da cantora juvenil ficaram estarrecidos com o último videclipe da moça, “Who owns my heart”, que além de exibir alta sensualidade, está repleto de insinuações lésbicas. Grupos conservadores pedem para que os canais não exibam o vídeo e ainda por cima exigem um pedido de desculpas da cantora, que recentemente declarou que não aguenta mais a imagem de menina boazinha.
E o terceiro alvo do momento é a atriz Lindsay Lohan. Que talvez seja, atualmente, a maior vítima da sociedade conservadora e de uma mídia sem limites para destruir a vida alheia. A garota ganhou dinheiro, fama e resolveu se drogar, ou seja, problema particular da vida dela.
As três jovens são vítimas da mesma indústria cultural: de um lado acham ótimo que elas se divulguem dessa maneira, pois aumenta a venda dos produtos relacionados aos seus respectivos nomes. Porém, na outra ponta, a mesma indústria cultural faz uma campanha moralista para que estas meninas fiquem quietas e de preferência dentro do armário.
Acontece que, apesar de estarmos próximos do fim da primeira década do século XXI, a indústria cultural ainda impõe certos valores aos seus artistas que nos remetem para as épocas mais sombrias do século passado. No entanto, o que se pode observar é que nomes recentes da música têm rompido com tal opressão de grupos predominantemente masculinos.
Por mais que pais e setores da mídia estejam fazendo uma campanha contra as atitudes da Miley Cyrus, esta já disse que não vai voltar atrás e que as mudanças em torno do seu trabalho estão apenas no começo. Para se ter uma ideia do absurdo, na semana passada, quando seu clipe estreou na MTV Brasil, duas apresentadoras deram concordância aos apelos dos pais. Alegaram que a moça deveria esperar completar 18 anos para ficar “mais saidinha”.
Agora, por que todos aplaudem quando o cantor Justin Bieber é fotografado aos beijos e amassos com uma garota? Ele não tem apenas 16 anos? Por que não clamam para que ele ainda espere um pouco e continue a brincar com os seus bonecos do Ben 10?
A resposta é simples: tudo ainda está ligado à questão da posição da mulher e do homem na sociedade. As cantoras devem ficar eternamente no seu papel de moças apaixonadas e dependentes, enquanto os cantores, mirins ou não, são incentivados a se mostrarem como verdadeiros ogros conquistadores.
O filósofo francês Michael Foucault já apontava nos anos 60 que a indústria cultural apenas reproduz os valores sociais. É composta por pessoas que vêm da sociedade conservadora. Portanto, assim como a sociedade exclui aqueles que não seguem o padrão, a indústria faz da mesma maneira, concedendo apenas um espaço limitado e ainda assim visando o lucro, para depois deletá-los.
Aguilera, Lindsay e Cyrus desde a pré-adolescência estiveram sob o clique das câmeras. Foram eternizadas como garotas da família, autênticas representantes da TFP (Tradição, Família e Propriedade). Porém, cresceram e adquiriram consciência e crítica. Os desejos já não são mais aqueles da adolescência. Porém, aos olhos da sociedade norte americana e de seus empresários, devem permanecer “boazinhas” e heterossexuais.
Quem não se lembra da personagem Dana Fairbanks, do seriado “The L Word”, que era obrigada a se manter no armário com ameaças de seu empresário que, caso viesse a se assumir, os patrocinadores desapareceriam.
O que se vê é que a postura das novas estrelas femininas da música é de romper com o sexismo imposto. No entanto, fica claro que ainda convivemos com um showbusiness fincado em valores arcaicos e que não correspondem com o estilo de vida atual.