Para quem acompanha a cena alternativa do cinema brasileiro o nome de Lufe Steffen não soa estranho. Em seu currículo o moço já tem cinco produções em curta-metragem: "Os clubbers também comem" (1999); "A cama do tesão" (2000); "Rasgue a minha roupa" (2002); "Beija-me se for capaz" (2006) e "Meu namorado é michê" (2006), que foi premiado no Festival Mix Brasil de Cinema do mesmo ano.
Agora ele lança "Fumaça em formatos bizarros", que assim como em todos os seus filmes anteriores trata de dilemas cotidianos entre jovens e envolve, sempre, a questão da sexualidade, seja gay ou não. Na entrevista que você confere a seguir Lufe conta que o processo de produção de seu novo curta foi "rápido".
O cineasta também afirma que se trata de uma produção de gay, mas ao mesmo tempo o filme "aborda várias formas de relações". Dinheiro também foi pauta da entrevista. Lufe revela que bancou a produção com dinheiro de seu bolso.
No final da matéria você confere o trailer de “Fumaça em formatos bizarros” que tem estreia marcada para o dia 13/04 (terça-feira), no MuBE (Museu Brasileiro de Esculturas), que fica Rua Alemanha, 218, esquina com a Av. Europa, no Jardim Europa. A sessão acontece das 19h às 22h e tem entrada franca.
Quanto tempo o curta levou para ser realizado?
Foi rápida a realização. O roteiro eu escrevi em setembro/outubro de 2009, gravamos tudo em novembro. Aí teve uma pausa e o curta foi editado no mês de janeiro. Ficou pronto no fim de janeiro e agora vai rolar o lançamento.
Do que se trata a história?
O curta mostra um grupo de personagens, meninos e meninas na faixa dos 20 anos, que são amigos. Aí surge a figura de um professor de literatura que desperta o interesse de todos, de uma forma ou de outra. E começam a acontecer os conflitos amorosos-sexuais entre eles.
Por que "Fumaça em Formatos Bizarros"?
É um título que eu já tinha pensado para outro curta que nem cheguei a fazer. Quando estava escrevendo o roteiro desse filme novo, lembrei do título e resolvi transferir. O título pode significar muitas coisas: a questão do mistério presente na fumaça, essa coisa da "bruma, névoa", que sempre tem uma aura de mistério, de enigma. E o personagem do professor é enigmático. Também a sexualidade humana, que eu considero sempre enigmática e muitas vezes confusa. No caso dos personagens do filme, essa questão é bem confusa para eles. E por fim, a fumaça no sentido óbvio, de fumar – tem muitas cenas de pessoas fumando cigarro e também maconha no filme. Aí vem a coisa da rebeldia – de repente, assim como na Hollywood dos anos 50, fumar volta a ser uma atitude rebelde, ainda mais em tempos da lei do fumo.
É um curta gay? Ou aborda varias formas de relações?
O curta é gay no sentido geral e na estética. Tem um clima gay. Mas é bem amplo: tem personagens gays, lésbicas, bissexuais e héteros. E nada fica muito claro. A ideia é deixar tudo no ar, então tem personagens que nunca temos certeza de qual é a direção sexual que ele segue. Portanto, sim, aborda várias formas de relações, mas não deixa de ser um curta gay.
O filme foi patrocinado ou você bancou do próprio bolso?
Não teve patrocínio. Eu banquei do meu bolso, assim como nos meus trabalhos anteriores.
Como anda essa questão de conseguir patrocínios? Gostaria que você fizesse uma avaliação a respeito de patrocínios para obras mais underground ou gays.
A questão do patrocínio infelizmente acho que está pior do que nunca. Principalmente para projetos com um jeitão mais under, ou mesmo projetos gays. Pelo menos no que se refere a cinema. Pelo que eu sei ou vejo, os diretores que buscam fazer filmes com assunto gay têm três opções: bancar do próprio bolso; inscrever o filme em editais públicos – que aí, no caso de vencerem, conseguem um dinheiro legal para fazer o filme – ou ir atrás de patrocínio.
A última opção me parece a mais complicada, porque ainda hoje acho difícil uma empresa, ligada ou não ao público gay, colocar dinheiro vivo num projeto – principalmente um curta, que tem uma repercussão menor do que o longa-metragem. E no longa, paradoxalmente, a exposição é maior e por isso as empresas preferem não investir. Ou seja, o apoio financeiro acaba não vindo.
Me parece que uma empresa que queira apoiar algum produto gay, vai preferir apoiar uma festa gay, uma boate, um cruzeiro, enfim, algo que vá ser comprovadamente lucrativo em termos de retorno de mídia para essa empresa.
Se você depender de patrocínios ou editais, corre o risco de ficar parado, esperando alguma coisa acontecer. Eu estou sempre buscando apoios, patrocínios, e me inscrevendo em editais. Eu sempre acreditei que dinheiro, patrocínio e mega infra-estrutura não garantem que um filme vá ter qualidade, ser relevante e se comunicar com o público.