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Luz, câmera, ação

No restrito e ainda incipiente mercado pornográfico nacional, três mentes brilhantes e criativas se destacam: Ruy Rufião, Osvaldo Tatão e Marcelo Barbellax. Eles são os responsáveis pela X-Plastic, produtora pornô que começa a se especializar em filmes com temática lésbica e bissexual.

A X-Plastic teve início em 1998, quando Ruy, Osvaldo e Marcelo faziam parte de uma banda de punk rock chamada Mapetis. Entre um ensaio e outro, o trio gravou seu primeiro vídeo: uma animação com Barbies paraguaias chamado “Plastic Lesbians” (título que, aliás, inspirou o nome da produtora). Com este vídeo, eles participaram do Festival Mix Brasil no mesmo ano. E fizeram história.

No último LadyFest, Ruy e Marcelo apresentaram seu trabalho e discutiram sobre pornografia. Em entrevista exclusiva ao Dykerama.com, Ruy conta sua percepção sobre o debate no festival, dá sua opinião sobre o atual mercado pornográfico brasileiro e explica sobre o mais novo lançamento de sua produtora, o DVD “Indulgência”, inspirado em filmes trash de tortura e abuso sexual. Confira abaixo a entrevista.

Como a X-Plastic começou?
No início a gente era uma banda chamada “Mapetis”, a gente tocava junto, punkrock essas coisas, aí todos gostavam de pornografia e pegamos uma câmera emprestada de um amigo, compramos umas Barbies paraguaias e gravamos nosso primeiro vídeo pornô chamado “Plastic Lesbian”, que rolou no Festival Mix Brasil de 1998. Daí pra frente é só história.

Como está atualmente o mercado pornográfico brasileiro?
Em transformação. Acho que as pessoas que estão entrando no mercado hoje têm mais visão de negocio e, ao mesmo tempo, mais preocupação estética. Acho que teremos uma cena pornográfica melhor do que a que temos hoje, daqui a cinco ou dez anos. E com mais relevância no cenário internacional.

Quem são as modelos que trabalham pra vocês?
Desde atrizes pornôs bem conhecidas no mercado tradicional a amigas que decidem participar dos vídeos.

Quanto custa fazer um filme pornô? O cachê das modelos é alto?
Depende muito do elenco, de que tipo de locação você vai usar, se vai contratar câmeras ou fazer você mesmo… O cachê é mais baixo para as menos conhecidas e mais alto para as mais conhecidas, funciona como no mercado tradicional. Garotas conhecidas já têm um público e é venda certa. Por outro lado garotas novas têm o apelo de nunca ninguém ter visto… Por aí vai…

Vocês estão lançando um filme agora em DVD. Podem me contar um pouco sobre esse lançamento?
Estamos lançando o DVD “Indulgência”. É um projeto inspirado em filmes trash de tortura e abuso sexual. E tem sátira com pastores corruptos de igrejas capitalistas… Essas coisas. É violento, muito fetish e SM! A gravação foi intensa. E a grande ironia é que o principal cenário, uma fábrica de temperos desativada chamada Cutuvi, se transformou numa igreja evangélica depois da gravação.

O que vocês acharam do debate no LadyFest?
Muito bom, achei legal terem convidado a gente. Mostra um amadurecimento do festival e do feminismo que em vez de se fechar num gueto e criticar o mundo, chama alguém que tem idéias distintas e antagônicas para uma conversa. É bom quando nos aproximamos do que não gostamos pra entender e discutir. Achei o resultado muito positivo.

No debate, vocês disseram que o mercado pornô se abastece sempre de coisas novas. O que vocês fazem, pode-se dizer assim, é um pornô “underground”, fora do mainstream. Quem é o público que consome o que vocês produzem?
Temos um público há quase dez anos comprando nossos VHS, fanzines e agora o site, e os DVDs lançados pela Explicita. Nosso público continua o mesmo, mais o público de pornografia tradicional que nunca tinha ouvido falar na gente e agora encontra nas locadoras ou navegando na net. O nosso público tradicional é o público de banda independente, de fanzine, de vídeo trash. O público que compra CD em show, camiseta pelos Correios…

Quais são os próximos lançamentos da X-Plastic?
“Outra Geração Perdida I e II”, provavelmente no início de 2008. Completaremos a trilogia no final do ano. E um site novo, novo de verdade (risos). Vai surpreender!

Vocês já pensaram em produzir filmes gays?
Já pensamos em canas gays dentro dos nossos filmes. Da mesma forma que temos cenas com lésbicas, porque não uma cena gay? Sei que existe uma resistência de parte do mercado. Mas é uma idéia a ser explorada em breve.

Quais são as principais dificuldades de se produzir material pornô no Brasil?
Pirataria. Está muito difícil vender DVDs hoje por causa da pirataria.

Qual é o perfil do consumidor brasileiro de material pornográfico?
Não sei, acho que não existe nenhum tipo de estudo sobre este público no Brasil. Mas arrisco dizer que é bem variado, deve ter uns 20% de mulheres. A faixa etária deve ser bem distribuída com uma maioria entre 25 e 30 anos… Mas é tudo chute… Devo estar errado (risos).

O que vocês acham que têm diferente das produtoras existentes no mercado? O que vocês podem trazer de inovação?
Estamos organizados de forma diferente, não temos chefes, ninguém opina no processo criativo, as pessoas que colaboram com a gente não estão ali pela grana, porque na maior parte das vezes não tem grana. E todo mundo consegue conversar sobre produção audiovisual e pornografia sem preconceitos. Acho que a inovação vem e virá da diversidade de pessoas envolvidas no processo de produzir o filme. Os atores têm liberdade pra falar sobre a cena, as atrizes têm liberdade até pra escolher que acessórios vão usar. Achamos que assim a cena fica mais divertida, no mínimo mais divertida de gravar!

O que não é permitido dentro do mercado pornográfico?
Se tivermos como referência os Estados Unidos, muitas coisas e variando de Estado pra Estado. No Brasil é proibido envolver menores de 18 anos, fazer apologia a uso de drogas e crimes. Acho que mais nada é proibido.

Como funciona a atual legislação brasileira para o mercado pornô?
Proibido para menores de idade, proibido cenas sem consentimento (estupro). Nós tomamos os cuidados com a legislação considerando a legislação norte-americana, que é muito mais rígida e também porque assim podemos participar de festivais por lá.

Os atores passam por algum tipo de teste antes das filmagens?

Nos encontramos antes de gravar pra uma conversa informal geralmente num bar… Nada mais que isso.

::Para conhecer o trabalho da X-Plastic acesse www.xplastic.net.

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