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“Mãe, eu sou hétero”, diz Luly, personagem do Terça Insana

Um dos ingredientes do sucesso do Terça Insana é ironizar as questões cotidianas comuns à grande parte das pessoas e fazer de assuntos  polêmicos base para uma esquete de humor. A formula tem dado certo há oito anos, lotando o Avenida Clube, em São Paulo, e esgotando também ingressos de suas intinerâncias pelo Brasil, sem falar em produtos como DVDs que já foram lançados com assinatura da grife.

Neste mês o tema central é Solidariedade e, seguindo essa filosofia, a trupe de Grace Gianoukas preparou mais uma esquete gay. Pelo menos três apresentações do espetáculo fazem referências à cultura gay, mas uma delas era exclusivamente gay e leva à reflexão. O sucesso e aceitadação do tema não é novidade na companhia. Betina Botox, personagem criado e encarnado pelo ator Roberto Camargo, é um gay clubber afetado que faz sucesso entre gays e héteros. 

Agora, Terça Insana apresenta Luly, mais um personagem que trata da diversidade sexual. A partir daqui é spoiler, continuar a leitura é por sua conta e risco – ou riso.

O filho da mãe engajada
Uma jovem senhora, aparentando aproximadamente 40 anos, entra no palco e começa a chamar "Luly… Luly". Parte da plateia acredita que sairá da coxia um animal ou uma garota franzina, mas a surpresa é quando Luiz Henrique entra no palco.

Ela cria seu filho acreditando que ele seja gay, fazendo um contraponto ao comportamento dos pais que sempre criam seus filhos vendo a heterossexualidade como a única possibilidade. Luiz comunica que, inclusive, vai para a praia no fim de semana. O garoto, de visual emo, entra em cena com cara de poucos amigos, aflito. Sua mãe questiona o que ele incomodando-o e ele diz que precisa falar uma coisa importante.

A mãe, acreditando que seu filho seja realmente ligado às roupas modernas e de grife que estouram o cartão de crédito dela, já fala: "já sei, você quer uma camiseta nova da Cavalera". Com a negativa do filho, ela apela ao consumo de luxo. "Um jeans da Diesel?". Recebe outra negativa.

Ele começa a falar sobre a Sheila, uma garota que conheceu na fila do filme Milk, no shopping Frei Caneca em um domingo. A mãe toda animada já pergunta "é alguma amiga da mamãe que trabalha na Bubu?" e ele "não", ela tenta novamente. "Blue Space? Danger? Já sei, Nostro Mundo" e mais negativas. O garoto, muito irritado e desconfortável, fala em alto e bom tom "mãe eu sou hétero".

E a mãe, toda sorridente já fala, desacreditando: "já sei, Farme de Amoedo" e o garoto nega. "Vai pra São Vicente, no quiosque da Cris?". Não, responde ele, "vou acampar em Maresias, em Camburizinho, depois dou uma esticada até o Sirena". Ela irritada fala "meu filho, gay não acampa!". "O que uma mulher está fazendo na fila do Milk, num domingo, no Frei Caneca, se não quer pegar as bibas? Se coloca, biba!".

Ela fica em choque, incrédula, pasma, ensaia um choro e emenda dizendo que tem certeza que a Sheila é uma "caça-biba, uma evangélica infiltrada". "Deve ter uma delas aqui também", dispara apontando para a plateia. O garoto reafirma com uma frase um tanto machista e diz "mãe, eu sou homem" e a plateia solta um sonoro "aeee".

"Mãe eu gosto de mulher, com peito. A Sheila tem peito, de verdade", explica. Tentando convencer sua mãe de que é realmente hetero, ele completa: "eu não gosto dessas roupas, eu não gosto dessas músicas, dessas boates". "Mas eu torrei o cartão de crédito comprando três VIPs pra Madonna", diz a mãe aflita. Ele fala uma frase que leva a mãe a ensaiar novamente choro: "mãe, eu não gosto da Madonna, eu gosto de rock, de surf, de praia".

A mãe, completamente indignada ainda pergunta se eles já transaram e, quando o garoto confirma que sim, ela chora. Completamente desapontada com seu filho, que sempre o criou acreditando ser gay. No fim do ato, ela fecha falando "e agora, o que vou falar para suas madrinhas, a Nany People e a Silvetty?". E o povo vibra.

Reação do público
Divertido e muito crítico, o texto leva à reflexão, a partir da inversão de comportamento, sobre como as famílias ainda hoje criam seus filhos acreditando que só exista a heterossexualidade.

O homossexual dentro do humor geralmente agrada a plateia, mas isso não significa uma aceitação. Durante a apresentação, quando Luly fala "sou homem" é nítido que a manifestação da plateia refere-se ao que eles acreditam, ainda, ser o normal.

Rupert Everett

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