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Mais uma vez

“Porque quem ama nunca sabe o que amar
Nem sabe por que ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar…”

(Fernando Pessoa)

O coração diz: “Vá”.
A coragem responde: “Vou nada!”.
Aí razão se faz de doida: “Eu não sei de nada…”
E a alma vai te lançar.

E não adianta dizer que nunca mais vai amar. Não adianta fugir, se esconder, se revoltar, cegar os olhos, tapar os ouvidos, entupir os poros, enrijecer os músculos ou se fingir de morto.

Não adianta desligar o som, evitar poesias e pessoas, relembrar as películas que projetam continuamente as dores vividas, as feridas sangradas, as cicatrizes no peito, as faúlhas que remetem às lágrimas, feridas do passado.

Não adianta azedar, esfriar, endurecer ou ironizar. Não adiantam “nunca mais”, auto-hipnose, fugir do país, trancar-se no quarto, beber feito louca. Não adianta revoltar, fingir-se de morta. Que venham dias, meses, anos, vidas talvez, irremediavelmente a alma voltará a desabrochar nossa própria essência através de outra alma. Não se trata de capricho ou dependência, e sim necessidade de autoconhecimento. Queira ou não, qualquer tentativa para evitá-la far-se-á frágil em dado momento e jaz nisto o trunfo da alma: o amor.

Qualquer que seja a tentativa para evitá-lo não será possível. E mais uma vez será o amor. Ele fará da velha experiência a inocência repetida e apagará qualquer resquício de sabedoria agarrado em sua consciência, como um vento forte que devasta o jardim. O mesmo vento moverá as flores no campo, a mesma espada dará coragem para acreditar novamente, e a voz que despedaçou os seus sonhos será a mesma que te fará segui-la novamente.

O amor estará sempre acontecendo. Esse é o propósito da vida. Amar é a nossa real identidade e não adiantará tentar escapar do que te fará se prostrar para sua essência.

Ontem, agora e sempre o amor vai te embalar. O velho e novo amor de sempre: o frio na barriga, as mãos suadas, o coração palpitando e todos os sintomas que não conseguiremos domar…

Mais uma vez amor, que nos sacode dentro de nós mesmos e nos faz conectar com uma energia tão grandiosa e avassaladora que de tão pura e inocente nos transforma novamente em criancinhas. O coração não tem memória.

Uma vez li num livro que nós não apaixonamos por alguém e sim pela energia que esse alguém desperta dentro de nós. É uma conectividade, sintonia, sincronismo. Não importa que descrição ele tenha: ele simplesmente acontece quando menos se espera.

O destino será sempre testemunha das incontáveis vezes que nos apaixonaremos, mesmo jurando nunca mais amar. Não adianta, sempre haverá algo de límpido, uma promessa morna, águas calmas ou revoltas que nos enfeitiçarão como pescadores seduzidos por sereias até mergulharmos em sua imensidão desconhecida, por mais que tenhamos mergulhado quinhentas mil vezes no mesmo mar e parecido nos afogar.

Ele sempre será novo e nos dará a sensação de estarmos revigorados e curados de qualquer dor. E assim levantaremos dos nossos postos de defesa e proteção e nos lançaremos profunda e irremediavelmente no que é verdadeiramente parte de nossa própria essência: o amor.

E assim, quando você menos esperar, pousará os olhos nos olhos de uma mulher e vai desejar nunca mais sair de perto dela. As suas mãos serão as mais quentes e seu abraço a melhor cama. A sua boca o melhor vinho. E você vai ficar boba, insegura, rindo à toa. Vai sorrir para todos, talvez até conversar com as pedras e pássaros no meio do caminho.

Quando ele chega é sempre assim: sem aviso prévio. Não há contrato, previsão, acordos ou palavras que te sirvam como suporte nessa viagem ao inesperado. Aquele sorriso será teu abrigo e ponto final. Se lance porque ou você vai por bem ou o mar vai te levar… A maneira mais sincera que esse grandioso sentimento nos invade nada mais é que uma necessidade nata à alma: a de se desdobrar reflexivamente sobre si mesma através de outra.

Enfim, o amor é criativo, exato e sábio como tudo o que provém da alma. Real como tudo o que é verdadeiro. Variável como tudo o que é humano.

E viva a não redenção ao amor!

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