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Manifestação pelas vítimas de Carapicuíba revela descaso com barbárie gay

Ontem (25/01), aconteceu no Parque do Paturis, em Carapicuíba, uma manifestação por conta dos 13 gays assassinados em série no local. O que não é novidade é que ninguém compareceu ao evento. Estiveram presentes pessoas ligadas à organização e alguns transeuntes que foram conferir o que estava acontecendo. Ainda assim, o número não passou de dez pessoas.

Em dado momento, o organizador, constrangido pela ausência de apoiadores a causa, disse: "se tivesse o cantor Belo por aqui, o parque estaria lotado". Infelizmente é a pura verdade. Com isso é possível concluir algumas coisas: não há movimento gay organizado em Carapicuíba (informações colhidas com o povo de lá), má vontade das organizações LGBTs da capital paulista e uma imensa má vontade de gays em se interessarem, o mínimo que seja, pelos seus direitos. 

É difícil entender o motivo de uma manifestação com a importância que o caso presente tem – 13 homossexuais assassinados em série – ter sido o fiasco que foi. Mas, vamos tentar refletir: em uma ponta temos o movimento gay de São Paulo, que é um dos maiores, se não o maior, e o mais antigo. Onde estava esse movimento no domingo? Provavelmente alimentando discussões virtuais no conforto de seus lares. 

Em certos momentos, é inegável, o movimento social gay é intransigente na cobrança por nossos direitos frente aos nossos parlamentares. Vide projeto de lei para união civil e pela criminalização da homofobia. Só que parece haver um certo engessamento de ações e novos rostos. E aí, entramos na outra ponta do problema: a grande falta de interesse da população LGBT na cobrança por seus direitos.

Parece que ainda não caiu a ficha de que gays, lésbicas, transexuais, travestis e bissexuais não possuem quase nada no que diz respeito a direitos. Salvo algumas leis estaduais ou municipais. Esta ausência de interesse é um problema grave, pois, nesse caso, as Ongs carecem de novos personagens para trazerem novo gás à luta. Assim como no movimento negro e o de saúde, só para citar dois exemplos, os ativistas não se renovam, eles envelhecem e a coisa fica restrita a boa vontade de deputados e vereadores.

Há solução? Talvez. De um lado é necessário um trabalho intensivo do movimento gay organizado nos espaços de convivência LGBT, fazer o corpo-a-corpo e assim trazer homossexuais à discussão. Do outro lado é preciso que gays se interessem e entendam que este descaso ou, aquela famosa frase, "ai, tudo isso é muito chato", é o que fortalece os movimentos religiosos e suas respectivas bancadas políticas ao redor do Brasil. Dessa maneira, a aprovação de leis aos LGBTs acaba sempre como uma luta de Davi contra Golias e quase sempre é Golias que vence.

O pior de tudo foi, ao sair da manifestação, encontrar alguns gays sentados em um quiosque ao lado de onde ocorreu o protesto tomando cerveja. Aí fica difícil. Na verdade é preciso realizar uma tese para entender isso. Na semana passada publicamos entrevista com Marcelo Garcia, ex-secretário da Secretaria de Assistência Social do Rio de Janeiro. Ele desferiu criticas contundentes ao movimento gay como um todo e conclamava a re-fundação do mesmo. Sua fala causou reações de vários setores das organizações não governamentais, que ficaram muito irritadas.

Não sei se refundar é a palavra, mas repensar é preciso. Até a ex-deputada Iara Bernardi – aliada histórica do movimento – já fez crítica parecida com a de Marcelo Garcia. Em entrevista ao site A Capa, ela chegou a dizer que o "movimento gay é desorganizado" – você pode conferir a entrevista aqui. Na época, não houve tantas reações e bate-boca virtuais. 

Como diria Caetano Veloso, "alguma coisa está fora da ordem". E deve estar mesmo: 13 gays são assassinados em série e o movimento LGBT não participa do primeiro e único manifesto em prol dessas vítimas. A mídia como um todo também se absteve, os parentes das vítimas não querem aparecer e a população gay está mais preocupada em sair a noite, comprar roupas e ver qual DJ gringo irá animar… Pra fechar, vou parafrasear o sociólogo Chico de Oliveira: "não há luz no fim do túnel, se você achar é o trem que vem".

Xoxó tá na moda!

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