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Marcelo Serrado e a verdade incômoda

E mais uma vez um ator da Rede Globo vem a público dizer o quanto apóia a comunidade gay, a união estável, enfim, todos os temas bem limpinhos e que soa bonito dizer que está de acordo, porém, o ator Marcelo Serrado exagerou nas vírgulas e nos "porém" ao dizer que não gostaria que a sua filha visse um beijo entre dois corpos iguais na faixa das 21h, mas tudo bem se for às 23h.

Pronto, logo meio mundo criticou o ator e este foi em seu Twitter dizer que não tem preconceito, e claro, que têm amigos gays e que estes até convivem em sua casa. Parabéns. A postura do ator está em consonância ao projeto de sociedade ao qual a rede que paga o seu salário faz parte: liberal e higienista. Portanto, nada mais óbvio que os funcionários de tal aparelho reproduzam o ideário vendido pelo canal.

Recentemente outro ator do mesmo canal e por incrível que pareça, da mesma novela (Fina Estampa), o "galã" Caio Castro declarou que é "melhor ter fama de pegador do que de viado" e também gestou inúmeros debates (refleti sobre o fato. Leia aqui). Apesar da fala equivocada, o ator e seu agente sabem muito bem que ter fama de viado é sinônimo de desemprego ou de papeis secundários. Até mesmo diretores e autores do canal em questão defendem o armário como proteção do emprego dos aspirantes masculinos a papel de protagonista na faixa das 21h.

A questão vai além da opinião dos dois atores. Trata-se de uma cultura fortemente alimentada cotidianamente na TV brasileira e também por muitas pessoas brasileiras. O que se vê na tela? São as beeshas femininas – caricatas ou completamente higienizadas, ou seja, másculas e discretas. Porém, tal fator também reside fora da tela. É muito comum escutarmos: "ai você não dá pinta", "você nem parece que é gay", ou no sentido contrário, "nossa, aquele fulano é pintosa demais" etc. Porém, tal preconceito contra aqueles sujeitos que não correspondem aos protótipos de homens e mulheres de verdades (sejam homossexuais ou não) também é muito forte entre a própria comunidade gay.

Se no seio da comunidade gay há forte machismo e sexismo, por que na televisão seria diferente? Visto que o aparelho, baseado em pesquisas, tenta se aproximar dos valores e convenções sociais vigentes no cotidiano. Portanto, a questão aqui possui dois lados e ambos igualmente perversos. Para que o conteúdo televisivo passe a ser menos sexista, machista, estereotipado (no sentido negativo, até porque todos nós somos estereótipos) e menos homofóbicos, é preciso pensar um projeto de sociedade que englobe e transforme os meios de comunicação.

Mas, enquanto a feminilidade for sinônimo de algo abjeto, o será também na televisão, principalmente nos horários de maior audiência. Enquanto os sujeitos do cotidiano continuarem a higienizar os seus iguais, a TV o fará com mais força e intensidade e os seus funcionários irão reproduzir, concordando ou não, tais valores. Por hora estamos assim: as beeshas existem? Então, por favor, trate de deixá-las o mais limpo e caricato possível, assim divertimos, lucramos e não incomodamos os bons costumes da família brasileira.

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