Quando ela nasceu, em 1956, Elvis Presley explodia no cenário musical com nada menos que nove músicas nas paradas de sucesso, incluindo Love me Tender. No mesmo ano, em parceria com Vinicius de Moraes, Tom Jobim escreve as músicas da peça Orfeu da Conceição, com o sucesso Se Todos Fossem Iguais a Você.
Em 1957, quando eu nasci, Frank Sinatra gravou pelo primeira vez All The Way e Dorival Caymmi gravou Saudade da Bahia, que havia sido composta e engavetada cerca de dez anos antes.
Marion Alsop é americana, tem 54 anos, é libriana e iniciou o seu aprendizado musical aos três anos de idade tocando violino. Foi em frente com a música e em 2007 tornou-se a primeira mulher a assumir o posto de diretora artística e maestrina titular de uma orquestra importante nos EUA, a de Baltimore.
Eu sou brasileira, tenho 53 anos, sou taurina e com oito anos de idade comecei minha frágil carreira musical, aprendendo a tocar flauta doce para ingressar numa orquestra infantil logo depois. Passei pelo piano, violão, coral e parei por aí. Mais tarde cursei a faculdade de Direito, me tornei advogada e, a partir de 2008, passei a exercer a atividade de editora de livros também.
Nós duas somos homossexuais e convivemos por longos anos em ambientes extremamente conservadores e machistas. Mas aos poucos isso está mudando.As mulheres estão tomando conta das carreiras jurídicas, temos um grande número de advogadas, procuradoras, promotoras, juízas, algumas desembargadoras. No mundo musical o processo tem sido mais lento, principalmente na posição de comando de grandes orquestras. Fiz uma rápida pesquisa a respeito e encontrei pouquíssimas maestrinas, sendo Marion Alsop uma delas.
Alsop é considerada o principal nome feminino da regência na atualidade e será a nova regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp, substituindo, a partir de 2012, o francês Yan Tortelier. Nossa futura maestrina, com muita honra! Para se ter uma idéia da importância da moça, em 2006 Alsop foi convidada a participar da reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, ao lado de presidentes, chefes-de estado e presidentes das empresas mais poderosas do mundo. Era a única musicista clássica presente na reunião. Fora isso, sempre se destacou no mundo da música como regente no comando de grandes orquestras europeias, além de muito premiada.
A maestrina tem uma forma peculiar de trabalhar. Cultiva o contato mais próximo com seu público e toma a iniciativa de explicar uma obra antes do concerto, ilustrando com trechos musicais tocados pela orquestra, além de conversar com a plateia depois das apresentações. Não se preocupe, ela já está aprendendo português.
Conheci Marin Alsop em setembro de 2010, através de uma notícia do jornal que anunciava a sua presença frente à Osesp como regente convidada num concerto na Sala São Paulo. Infelizmente não pude ir ao concerto naquele final de semana, mas como sou curiosa não resisti e fui ouvi-la numa mesa redonda promovida pela Folha de S. Paulo no seu auditório.
Confesso que fiquei bastante impressionada com seu engajamento em atividades educativas e de inclusão social, além da sua simplicidade ao falar e total falta de arrogância. Pontuou seus projetos sociais desenvolvidos nas comunidades carentes na periferia da cidade americana de Baltimore e outras atividades junto aos jovens e adultos que interrompiam sua educação musical.
Fiquei encantada com o perfil de ongueira da nossa futura maestrina e de como ela encara a função da música, não só clássica, como meio de integração social e forma de alcançar a cidadania plena. Me emocionei com sua fala e senti orgulho por ela ser uma igual – homossexual.
Não tenho dúvida que Alsop tem sensibilidade social e política. E quem sabe não foi adquirida pelo fato de fazer parte de uma minoria que sempre foi tão sofrida e discriminada.
Sinceramente, estou muito feliz, aplaudindo antecipadamente a sua presença frente à Osesp e tomo a liberdade de indicá-la como nossa regente do arco-íris. Avante, maestrina, defendendo hoje e sempre a diversidade!
Dica importante : você pode conferir o talento da moça ainda este ano. Ela vai reger a Osesp nos dias 23, 24 e 25 de junho na Sala São Paulo, na semana da parada! Mera coincidência, será?
* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.