"Neste momento, estamos indo muito bem…", tentava dizer Marta, sobre sua posição como primeira colocada nas pesquisas com 41% das intenções de voto para a prefeitura da cidade. A frase da candidata foi cortada por um coro formado por eleitores que entoavam a marcha "Ole! Ole! Ole! Olá! Marta! Marta!".
Diante da euforia e entusiasmo dos presentes, Marta continuou seu discurso. "Esse apoio vocês estão me dando aqui. Eu quero vê-lo nas ruas, nos barzinhos, nas baladas gays", afirmou sendo aplaudida por cerca de 250 pessoas presentes. O evento lançou oficialmente as diretrizes que farão parte de seu plano de governo.
O encontro aconteceu no hotel Shelton Inn, na região central de São Paulo, e contou com a participação em mesa do ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Entre os presentes, na platéia estavam as candidatas a vereadoras Salete Campari e Jacque Chanel, entre outros. O ex-deputado José Genoíno compareceu ao evento, mas saiu à francesa, sem se despedir de ninguém, durante a fala do ministro.
Militância
Militantes como Yáskara Guelpa, Beto Sato, Alexandre Peixe e Regina Facchini também marcaram presença. Na platéia, podiam ser vistos ainda Bill da Pizza, Ronaldo Moreira e seu companheiro, o professor universitário Alessandro Faria, o Ali, que foi vítima de ataque homofóbico em fevereiro do ano passado.
Responsável por abrir a mesa e começar a sessão de falas da noite, Marta iniciou seu discurso elogiando os militantes Toni Reis, Beto de Jesus e Luiz Mott. "São pessoas que deram a cara a tapa. Tenho muito apreço por vocês", disse Marta, lembrando dos tempos em que era deputada e de seu projeto sobre união civil. "Nós caminhamos bastante, mas ainda falta muito. Lembro quando o Toni testemunhou no Congresso, enfrentando aquelas perguntas vexatórias", recordou-se. A candidata se referia ao episódio em que Toni foi questionado pelo então deputado Severino Cavalcanti se era "ativo ou passivo". "Ele queria saber quem era o homem e quem era a mulher na relação", disse Toni.
Avanços
Durante sua fala, Marta lembrou dos personagens gays que começaram a surgir nas telenovelas a partir de 1994. "Antes era tudo muito estereotipado", assinalou.
Para marcar os avanços da comunidade LGBT, Marta citou, como não poderia deixar de ser, a Parada Gay. "Ela causa um impacto muito grande no turismo. Mostra que a cidade é cosmopolita e respeita a diversidade".
Em seu discurso, apoiada pelo militante Julian Rodrigues, a candidata lembrou o "pioneirismo da cidade" em estender aos companheiros de mesmo sexo de funcionários municipais os mesmo benefícios dos heterossexuais. Nessa questão, a cidade do Rio de Janeiro saiu na frente. Em dezembro de 2001, César Maia aprovou a lei na Cidade Maravilhosa, enquanto que em São Paulo o projeto só foi assinado em novembro de 2002.
Diretrizes
Entre as diretrizes que compõe o plano de governo da candidata está a de dar uma nova direção à CADS – Coodernadoria de Assuntos da Diversidade Sexual. Para Marta, as políticas públicas voltadas ao segmento LGBT devem ser "intersetoriais" e a cidade precisa de uma "prefeita que respeita".
A petista assumiu o compromisso de "priorizar o diálogo com o movimento". Importante mencionar, durante sua gestão, um episódio envolvendo parlamentares e militantes fez com que Marta não recebesse lideranças gays e um documento resultante do Seminário de Políticas Homossexuais.
Gay-friendly
Ainda falando sobre as diretrizes, Marta falou novamente sobre o turismo. Diz que a cidade perde turistas gays para Buenos Aires, tida como a capital mais amistosa para os gays na América Latina. Treinamentos para policias está nas propostas da candidata.
"Nós queremos ser gay-friendly. O que é isso? É o respeito. Não adianta falarmos que respeitamos a diversidade. A pessoa tem que saber que se acontecer algum problema a polícia está do lado dela. Que a guarda civil vai defendê-la. Quem trabalha com proteção e guarda do cidadão não pode ter preconceito. Não podemos admitir isso" enfatizou a petista, já sendo ovacionada pelos presentes.
Direitos Humanos
Bastante preparado para falar sobre o tema LGBT, estava o ministro Paulo Vannuchi. Em sua fala, o responsável pela secretaria dos Direitos Humanos citou escritores gays como Federico Garcia Lorca e Oscar Wilde e atentou para a questão dos jovens LGBTs, mencionando a praça no Trianon, ponto de encontro gay, desde o início deste ano.
Cinismo
Em entrevista rápida ao site A Capa, o ministro Vannuchi afirmou que não é possível dar injeção de ânimos na militância de que Marta será eleita no primeiro turno. "Se ela não ganhar por causa de um voto, essa vitória acaba virando uma derrota".
Questionado sobre a apropriação da pauta LGBT pelos partidos de direita, Vannuchi classificou o interesse na causa como "cinismo". "É um tipo de união muito cínica. O pensamento de direita sempre esteve ligado ao conservadorismo. Não estão interessados realmente", afirmou.
Pênis e vitória
Os militantes Rita Quadros e Lula Ramires também discursaram. Rita começou falando sobre o pioneirismo da candidata. "Foi a primeira mulher a falar sobre pênis na televisão aberta. Isso nos tempos do TV Mulher", lembrou. "Não me faltam motivos para votar na Marta", declarou Rita ao término de sua fala.
Já Lula, do grupo Corsa, ressaltou a importância da educação, em especial para as travestis e transexuais. Bastante confiante, deixou clara a expectativa que tem de a petista ganhar a eleição em primeiro turno. O ativista pediu ainda que os presentes ligassem para dez amigos pedindo votos à candidata. "E-mail também vale, mas aí tem que mandar para cem pessoas", disse.