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Mas, afinal, ocorre “liberdade sexual” ou “promiscuidade” nas Paradas?

Muitas vezes neste mês em que acontece a Parada LGBTT de São Paulo pululam internautas acusando a Parada de ser um carnaval fora de época, onde supostamente as pessoas liberam geral, ou seja, pessoas que fazem uma crítica ao comportamento dos participantes numa acusação de promiscuidade.

O próprio termo promiscuidade já carrega em si um tom de julgamento moral, algo do tipo "você deveria ser de outra forma, deveria ser monogâmico e sua sexualidade deveria ser regrada!" A sexualidade humana sempre foi objeto de tentativas de controle tanto pelas próprias pessoas em relação a si mesmas quanto de instituições (religiões, organizações políticas, medicina, etc) e todas estas tentativas tiveram algo em comum: nenhuma foi completamente eficaz.

A sexualidade humana é complexa, tem múltiplos determinantes e é forte, tão forte que não raras vezes fura o que é estabelecido, subverte o que é ditado, rompe preceitos e algumas vezes desafia a ordem social vigente. As sexualidades diversas do padrão heterossexual-monogâmico tiveram um forte papel no questionamento de regras que durante muito tempo foram marteladas socialmente, colocando em xeque obrigações, modelos e regras de como supostamente se deveria viver a própria sexualidade.

O que escapa aos que criticam um suposto comportamento das pessoas na Parada (e digo suposto porque nem de longe se faz tudo que estes textos dizem que se pratica de forma generalizada por lá!) é justamente isso: a sexualidade humana é diversa, não só com relação ao objeto sexual (orientação sexual) ou ao gênero, mas também na forma como cada um exerce sua própria sexualidade, na forma como cada pessoa sente e quer ter prazer. Para sair da questão do julgamento moral prefiro o termo liberdade sexual: que cada um possa vivenciar sua sexualidade do jeito que sentir que deve, desde que seja consensual e entre maiores.

Ou seja, há uma grande diferença entre ter uma relação monogâmica duradoura porque o próprio desejo aponta pra isto e ter esta mesma relação porque um discurso social impõe que assim deve ser. Um grande perigo em tentar ditar como a sexualidade deve ser vivida pode ser observado na história das culturas ocidentais que por muito tempo negaram qualquer possibilidade de expressões sexuais diversas poderem até mesmo existir, criminalizando-as ou punindo de outras formas terríveis quem ousasse ir contra o estabelecido.

A questão problemática, portanto, é acreditar ser possível estabelecer uma forma de vivenciar a sexualidade que seja universal e que deveria ser seguida por todos. Isto, como dizia o televisivo caçador de mitos, "non ecziste"!

Não se trata de cair num tudo-pode, mas sim de que o fenômeno se imponha à opinião: a diversidade de formas de ser e de se relacionar, as formas de expressão da sexualidade estão aí, postas na existência humana.

A questão é o que se faz com tudo isto: tenta-se colocar numa cama de procusto, esticando ou cortando até caber nos moldes ou seria possível lidar de forma mais libertária e franca com este enigma fascinante que é a sexualidade humana?

Um entendimento da sexualidade fundado a partir do sujeito, seu funcionamento, constituição e desejo pode permitir relações menos baseadas em coerção e mais pautadas por encontros francos com o próprio desejo e com o outro!
 

Leandro Salebian é psicólogo (CRP 06/99001) graduado pelo Instituto de Psicologia da USP. Já trabalhou na área da saúde mental em um CAPS Adulto e hoje se dedica exclusivamente ao trabalho em consultório particular. Segue sua formação estudando autores da Psicanálise e tem um olhar crítico e atento às questões de gênero e diversidade sexual. Na primeira semana do mês publica uma coluna e na terceira responde um internauta. Para enviar uma pergunta ou sugerir temas escreva para: leandrosresponde@gmail.com . Acesse também seu site ( www.leandrosalebian.com.br )

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