Muitas vezes neste mês em que acontece a Parada LGBTT de São Paulo pululam internautas acusando a Parada de ser um carnaval fora de época, onde supostamente as pessoas liberam geral, ou seja, pessoas que fazem uma crítica ao comportamento dos participantes numa acusação de promiscuidade.
O próprio termo promiscuidade já carrega em si um tom de julgamento moral, algo do tipo "você deveria ser de outra forma, deveria ser monogâmico e sua sexualidade deveria ser regrada!" A sexualidade humana sempre foi objeto de tentativas de controle tanto pelas próprias pessoas em relação a si mesmas quanto de instituições (religiões, organizações políticas, medicina, etc) e todas estas tentativas tiveram algo em comum: nenhuma foi completamente eficaz.
A sexualidade humana é complexa, tem múltiplos determinantes e é forte, tão forte que não raras vezes fura o que é estabelecido, subverte o que é ditado, rompe preceitos e algumas vezes desafia a ordem social vigente. As sexualidades diversas do padrão heterossexual-monogâmico tiveram um forte papel no questionamento de regras que durante muito tempo foram marteladas socialmente, colocando em xeque obrigações, modelos e regras de como supostamente se deveria viver a própria sexualidade.
Ou seja, há uma grande diferença entre ter uma relação monogâmica duradoura porque o próprio desejo aponta pra isto e ter esta mesma relação porque um discurso social impõe que assim deve ser. Um grande perigo em tentar ditar como a sexualidade deve ser vivida pode ser observado na história das culturas ocidentais que por muito tempo negaram qualquer possibilidade de expressões sexuais diversas poderem até mesmo existir, criminalizando-as ou punindo de outras formas terríveis quem ousasse ir contra o estabelecido.
A questão problemática, portanto, é acreditar ser possível estabelecer uma forma de vivenciar a sexualidade que seja universal e que deveria ser seguida por todos. Isto, como dizia o televisivo caçador de mitos, "non ecziste"!
A questão é o que se faz com tudo isto: tenta-se colocar numa cama de procusto, esticando ou cortando até caber nos moldes ou seria possível lidar de forma mais libertária e franca com este enigma fascinante que é a sexualidade humana?
Um entendimento da sexualidade fundado a partir do sujeito, seu funcionamento, constituição e desejo pode permitir relações menos baseadas em coerção e mais pautadas por encontros francos com o próprio desejo e com o outro!
Leandro Salebian é psicólogo (CRP 06/99001) graduado pelo Instituto de Psicologia da USP. Já trabalhou na área da saúde mental em um CAPS Adulto e hoje se dedica exclusivamente ao trabalho em consultório particular. Segue sua formação estudando autores da Psicanálise e tem um olhar crítico e atento às questões de gênero e diversidade sexual. Na primeira semana do mês publica uma coluna e na terceira responde um internauta. Para enviar uma pergunta ou sugerir temas escreva para: leandrosresponde@gmail.com . Acesse também seu site ( www.leandrosalebian.com.br )