A quebradeira no mercado editorial assusta empresários, jornalistas e estudantes de comunicação. Nos Estados Unidos jornais tradicionalíssimos e centenários estão quebrando, migrando suas operações exclusivamente para os meios digitais. Este não é um fenônemo da crise, é algo que vem acontecendo nos últimos dez anos, impulsionado por novas tecnologias, como a internet.
O The New York Times, o principal jornal dos Estados Unidos e um dos mais influentes do mundo, passa por sérios problemas financeiros. Vendeu parte de seus prédios, cogita migrar sua operação para o virtual e manter apenas uma edição dominical.
Aqui no Brasil a coisa não é diferente. Dez anos atrás a Folha de São Paulo – tão influente e importante no Brasil quando o NYT nos EUA – tirava mais de um milhão de exemplares aos domingos. Hoje está na casa dos 400 mil. Uma queda de mais de 60% nas vendas em dez anos. Por aqui, também existe um projeto de unir as redações do portal e do jornal, enxugando a mão-de-obra. Tenebroso. Isso sem citar revistas e outros diários pelo Brasil todo.
Nesse meio tempo vimos crescer a internet e, com ela, os sites desses jornais, de maneira que boa parte da audiência vai para os portais e não mais para o impresso. A dinâmica da comunicação mudou e é preciso noticiar antes do concorrente.
Na esteira do crescimento de um novo formato de mídia podemos notar também os jornais de distribuição gratuita em metrôs, trens e entidades de classe. Hoje o Metrô News tem tiragem muito próxima à da Folha de São Paulo e não custa nenhum centavo para seus leitores – e sim para seus anunciantes, conceito esse que se repete na internet.
Estudiosos de mídia acreditam que o modelo de negócio da distribuição gratuita é, na verdade, o caminho da imprensa: quem paga a conta é o anunciante. Esse fenômeno vem acompanhado também de uma mídia cada vez mais segmentada, o que é bom para o leitor, que vai ler notícias mais relevantes e pertinentes ao seu cotidiado, e também para o anunciante, que pagará menos por um anúncio e atingirá de maneira mais eficaz seu público alvo.
Já a imprensa gay vai na contramão em alguns aspectos. Nos últimos dois anos surgiram diversas publicações gays, algumas delas gratuitas e outras com venda em banca. Curiosamente a Revista A Capa, principal no segmento gratuito, e a Junior, principal na venda em bancas, surgiram a partir de portais, fazendo o curso exatamente contrário ao que é visto lá fora.
A Revista A Capa chegará a duas novas praças a partir deste mês e com tiragem 50% maior. Já a Junior deverá ter periodicidade mensal a partir de junho, como adiantou André Fischer em seu blog. Duas publicações que visivelmente estão estabelecidas, alçando novos rumos e investindo mais dinheiro – e ainda por cima tendo boa aceitação do mercado e dos leitores.
Esse é um bom motivo para que nós, jornalistas do mercado gay, possamos comemorar. A profissão está mais do que saturada, mas aqueles que dominam a comunicação de igual para igual e possuem vasto conhecimento terão muito trabalho pela frente. Agora é preciso que outros mercados do segmento encarem a mídia como deve ser encarada, para assim financiar toda sua estrutura.