Descobri que existe vida além do meio gay. Depois de tanto tempo trabalhando em veículos segmentados, confesso que passei a ter certa timidez e até insegurança em me relacionar com os héteros.
Ontem, minha irmã me apresentou algumas amigas e um amigo hétero. Olha, ele era hétero mesmo, daqueles que reverencia a beleza feminina com todo o entusiasmo. Fiquei bastante atordoado com a possibilidade de trocar uma só palavra com o cara. “Meu Deus, ele vai me olhar torto”, “vai tirar sarro de mim”, pensava. Ou pior, refleti, “ele vai fazer aquelas brincadeiras que todo hétero faz quando vê um gay, por exemplo, imitar o Clodovil”. Mas não. O menino foi super educado, espirituoso, interagiu o tempo todo e ainda assumiu no final da noite: “Tenho muitos amigos gays”.
Essa experiência me alertou para um fato curioso: não sei se o mundo anda diferente, mas nos últimos contatos imediatos com pessoas heterossexuais, senti que ouve uma sensível mudança na forma como elas nos vêem. Engraçado que todo hétero – principalmente as mulheres – adoraria ter um amigo gay.
Amigas hétero tenho aos montes. Mas amigos, bom, dá pra contar nos dedos. A verdade é que nunca me senti à vontade entre heterossexuais e tenho histórias bem desagradáveis pra contar quando resolvi me aproximar do mundo deles. Já fui discriminado várias vezes, e você sabe, gato escaldado tem medo de água fria.
Mas ultimamente tenho parado pra pensar: será que não está na hora de renovar as amizades? Alguém tem aí um amigo hétero pra me apresentar?