A história é mais ou menos assim. Meu vô foi viajar e visitou um amigo que estava doente. Chegando na casa do tal amigo ele teve uma surpresa. A esposa do paciente contratou uma enfermeira para cuidar do marido. Até aí tudo bem. Não fosse o fato da enfermeira ser travesti.
Pelo visto meu vô contou várias vezes o causo para a família. Minha tia/madrinha, que é sobrinha do vô até brincou que se ele ficar doente ela vai contratar uma travesti para tomar conta dele também. O velho ficou fascinado com a trava. Mas só gosta de mulher e muito. Pelos babados que me contam.
A questão é que o assunto surgiu e estávamos na praia. Tio e tia, mãe e pai, vô, prima e eu. Aí minha prima comenta que as vezes, é melhor um enfermeiro gay ou travesti. “Porque eles são mais delicados”.
Trabalhando há mais de um ano com o público gay e conhecendo pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero eu fui logo me vendo obrigado a discordar. O fato de uma pessoa ser gay, ou lésbica, ou travesti não faz dela delicado, cuidadoso, másculo, forte ou corajoso.
Essas características são traço da personalidade de cada um e não tem nada a ver com orientação sexual. Conheço alguns gays mais ogros que o Shrek e lésbicas mais frescas que muita bicha. Mas o estereótipo prevalece.
E eu pude constatar isso em outra situação. Protagonizada também por mim e minha prima. Mas desta vez o estereótipo foi invertido. Nós gays que temos a fama de só pensar em sexo, e de levar tudo pro lado sexual. Em outras palavras e para ser mais claro nós gays só pensamos naquilo duro. Pois bem. Eu comprei a G. E folhei a revista. Li a coluna da Claudia e do João Silvério Trevisan, algumas notas aqui, outras acolá. A minha prima era a próxima da fila. Quando entreguei a revista pra ela, em qual parte ela foi direto? Sim, pros ensaios fotográficos.
E tudo isso me levou a algumas horas de reflexão. Será que a orientação sexual é tão influente assim na nossa personalidade?