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Mídia e sexualidade

Posso afirmar com convicção que a teledramaturgia brasileira lentamente está abrindo espaço para os homossexuais. Explico: recentemente li no jornal que na novela “Insensato Coração”, o autor, Gilberto Braga, homossexual assumido, criou um núcleo de personagens gays. Meu comentário: finalmente, que ótimo!

Pois é, será que tem chance de acontecer o tão esperado beijo gay ou lésbico? Tomara!

É importante apresentar personagens gays e lésbicas nas novelas. O velho argumento que os mesmos escandalizam o público é tremendamente hipócrita e, sob esse pretexto, as emissoras limitam a liberdade de criação dos autores. Isso não pode acontecer! Precisamos evoluir e com essa notícia, sem criar grandes expectativas, quem sabe, vamos abrir nosso espaço neste veículo de comunicação tão poderoso. Será que as minhas leitoras concordam?

De algum modo, a mídia é o espelho da cultura e o interesse pela sexualidade sempre existiu. Afinal, não podemos descartar a hipótese de que a televisão no Brasil colabora para a educação sexual não só das crianças, mas dos jovens e adultos. Afirmo isso, considerando o comentário do Aguinaldo Silva, outro autor global, que declarou: “Há telespectador da Globo que nem sabe que homossexualismo (sic) existe”. Acredite se quiser.

Uma observação importante: homossexualismo ou homossexualidade? O primeiro termo até 1985 foi utilizado pela Classificação Internacional de Doenças (CID) e considerado como distúrbio. Assim, a nomenclatura homossexualidade foi adotada como menos discriminatória.

Temos que reconhecer que a homossexualidade sempre garantiu audiência e gerou polêmica, sabe deus por que, na televisão brasileira, principalmente nas novelas. Quem é da minha geração lembra da inesquecível “Vale Tudo” do mesmo Gilberto Braga, e do casal de lésbicas Cecília e Laís, em 1989. Mais recente, Silvio de Abreu, criou o casal gay Sandrinho e Jefferson, em “A Próxima Vítima”, de 1995, abordando também o preconceito racial além da homossexualidade. Apesar da polêmica, assisti às duas novelas e lembro muito bem que os personagens foram mostrados naturalmente, sem preconceitos, afastados de estereótipos e com muita dignidade. Não seria de outra forma, certo?

É importante notar que, apesar das mudanças recentes, a mídia convencional, quando trata do assunto homossexualidade, encara o mesmo de forma sensacionalista isolando o fenômeno como se o mundo gay e lésbico fosse algo a quilômetros de distância da vida familiar do brasileiro.

São várias as razões e a principal na minha modesta opinião é o preconceito. Permanece, ainda e infelizmente, o senso comum de que o gay e a lésbica são anormais e imorais.

Enquanto um beijo entre lésbicas na TV for proibido para menores, estaremos correndo o risco de manter justificativas como a citada anteriormente, para rotular orientações sexuais diversas em algo repugnante e imoral. É inaceitável! E se transforma em combustível para que os conservadores consigam pressionar mais uma vez e impedir direitos civis básicos aos homossexuais.

Acredito sinceramente que as mulheres são criativas e com o talento das nossas autoras, equilibrando momentos de drama, comédia e erotismo poderemos, quem sabe mais cedo do que se imagina, assistir a uma novela em horário nobre com várias personagens lésbicas, bissexuais, simpatizantes e hetéros, contribuindo assim para a tolerância e a diversidade.

Acredito que a passagem do tempo é uma conquista e não uma perda, agora, devo confessar que adoraria ter visto a versão lésbica das Irmãs Cajazeiras no “Bem -Amado”, também na mesma versão, Claudia Jimenez, como Bina, em “Torre de Babel”, quando esbravejava “Não to podendo”. Já imaginaram Solange Couto como Dona Jura lésbica em “O Clone” repetindo o bordão “Né brinquedo, não!”? Cá pra nós, faltou ousadia nas tramas que ficam no repeteco das velhas fórmulas que acabam dando certo, com os dramas familiares, campanhas sociais etc.

Como eu sou boazinha, além de otimista e quero colaborar com as nossas emissoras, indico uma parte da equipe e elenco que gostaria de ver na telinha realizando a futura novela:

Maria Adelaide Amaral, autora.Denise Saraceni, diretora.Camila Morgado, Marisa Orth, Vera Zimmermann, Cristiane Torloni, Lúcia Veríssimo, Bia Seidl, Camila Pitanga, Natália do Vale , Helena Ranaldi, Claudia Jimenez, Marília Pêra e Aracy Balabanian que não podia faltar no elenco, afinal, quem dirige é Denise Saraceni.

Vocês já imaginaram essas mulheres lindas, talentosas e sensuais incorporando personagens com as mais diversas orientações sexuais em tramas inteligentes, com coragem e determinação, embaladas pela trilha sonora das não menos talentosas: Zélia Duncan, Cássia Eller, Marina Lima, Maria Bethania, Leila Pinheiro, Maria Gadu, dentre outras?

Seria ótimo termos a chance de nos identificar com essas personagens em histórias que contribuam para a nossa visibilidade dignamente.

Viva mais uma vez e sempre a diversidade!

Obs: Se as redes toparem, um recado para a minha autora favorita: Maria Adelaide, tenho várias ideias ótimas!

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

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